Richard J. Roberts defende que não vale tudo na manipulação genética, o trabalho sobre humanos é o limite. Mas na alimentação pode tirar milhares da fome e avançar com o combate às alterações climáticas.
De passagem por Lisboa, o Nobel da Medicina sir Richard J. Roberts falou com a Renascença sobre organismos geneticamente modificados (OGM) e o papel que podem ter no combate à fome e às alterações climáticas, uma posição apoiada por 155 Prémios Nobel.
O investigador fala ainda da forte oposição dos ambientalistas da Greenpeace aos OGM, que acusa de “crime contra a humanidade”, da influência do dinheiro nesta campanha e da posição do Vaticano.
O prémio Nobel da Fisiologia e Medicina em 1993, juntamente com Phillip Sharp, pela divisão dos genes nas cadeias de ADN, fala ainda de linhas vermelhas. À margem das Conferências do Estoril, explicou à Renascença que não vale tudo na manipulação genética, o trabalho sobre humanos é o limite.
Este verão acusou aqueles que protestam contra o arroz dourado, geneticamente modificado, de cometerem crimes contra a humanidade. Porquê?
Porque o arroz dourado pode salvar vidas. Pode salvar a vida de crianças. Atualmente, estima-se que entre 250 mil a meio milhão de crianças morram todos os anos por deficiência de vitamina A. O arroz dourado pode ajudar a prevenir isso. Há evidências muito boas de que funciona.
Foi realizado um grande estudo na China e o Greenpeace fez de tudo para tentar desacreditar esse trabalho. A Universidade de Tufts (Massachusetts) cedeu à pressão e retirou o estudo. Está agora a ser feito um grande esforço para que seja republicado, porque estava correto e era bom.
A Greenpeace desviou-se do próprio caminho para atacar o arroz dourado da pior maneira possível. Teria sido muito fácil para eles não fazerem isso. Fizeram-no porque temiam que, se fosse aprovado, muitas outras culturas geneticamente modificadas podiam receber também aprovação para ajudar a saúde humana. Se isso não é um crime contra a humanidade, não sei o que é.
“Campanha contra arroz dourado? Se isso não é um crime contra a humanidade, não sei o que é”
Acha que isto é tudo uma questão de dinheiro?
Acho que é sobre dinheiro, é sobre política.
O que acontece com a Greenpeace é que os rendimentos deles, as doações, triplicaram desde que começaram a campanha anti-organismos geneticamente modificados.
Eles têm muito dinheiro para fazer o que deveriam fazer. Costumavam ser uma organização muito boa, eu era um dos apoiantes. Mas o que eles fizeram comigo em relação aos OGM é simplesmente terrível, é horrível. Não posso continuar a apoiá-los. Tentei falar com os líderes, eles não falam comigo.
Esta tem sido uma longa disputa. Vê algum […]