O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, lamentou hoje a lentidão das inspeções a navios envolvidos no acordo dos cereais do Mar Negro, que causou uma quebra no fornecimento de alimentos essenciais aos mercados globais.
De acordo com o porta-voz adjunto do secretário-geral, Farhan Haq, a lentidão das inspeções e a exclusão do porto de Yuzhny/Pivdennyi do acordo dos cereais resultaram numa forte redução no movimento de navios em instalações portuárias marítimas ucranianas.
“As exportações de alimentos pelo corredor humanitário marítimo caíram significativamente, de um pico de 4,2 milhões de toneladas métricas em outubro de 2022, para 1,3 milhões de toneladas métricas em maio, o volume mais baixo desde o início da iniciativa, no ano passado”, disse hoje o porta-voz de Guterres numa declaração à imprensa, em Nova Iorque.
“O secretário-geral apela às partes para que acelerem as operações e exorta-as a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para assegurar a continuação deste acordo vital, aberto a renovação a 17 de julho”, acrescentou.
Haq reiterou que as Nações Unidas estão totalmente empenhadas em apoiar a implementação do acordo dos cereais, assim como do memorando de entendimento sobre as exportações russas de alimentos e fertilizantes, para que os produtos dos dois países em conflito cheguem aos mercados globais com segurança e previsibilidade.
“Isso é especialmente crítico agora que a nova colheita de cereais começa na Ucrânia e na Federação Russa”, frisou.
Em julho de 2022, a Ucrânia e a Rússia, numa mediação assegurada pela Turquia e pelas Nações Unidas, assinaram o acordo dos cereais do Mar Negro para permitir as exportações de alimentos bloqueados nos portos ucranianos.
Este acordo crucial, que ajudou a aliviar a crise alimentar global causada pela guerra, já foi prorrogado várias vezes, mas Moscovo tem ameaçado pôr-lhe fim, caso as suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes continuem a ser obstruídas.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.