Ao longo de todos estes anos, que tenho trabalhado em comunicação de agricultura e floresta, há algo que me continua a intrigar muitíssimo:
O facto de um agricultor ser capaz de esperar anos para que o pomar que instalou dê fruta, ou que um produtor florestal seja capaz de esperar ainda mais pela madeira do seu povoamento. Mas depois nem um nem outro se mostram disponíveis para esperar pelo retorno de uma boa estratégia de comunicação.
Talvez, digo eu, porque vejam o pomar ou povoamento como um investimento e olhem para a comunicação apenas como um gasto. Gasto, esse, que em muitos casos, até consideram supérfluo, algo que são obrigados a fazer, seja pela última alínea do projeto de financiamento assim o exigir, seja “porque agora toda a gente fala em comunicação”. Efetivamente, ninguém estará para esperar pelo retorno a médio e a longo prazo de um gasto supérfluo, daqueles que se fazem só quando sobra dinheiro, como por exemplo, ir ao cinema e jantar fora. Convém que o retorno do filme e da refeição se traduza numa satisfação imediata.
Para além disso, quando apenas gastamos, em vez de investirmos, evitamos ao máximo correr qualquer tipo de risco. Se é para deitar dinheiro fora com esta modernice da comunicação, que seja por algo de valor seguro, algo que já tenhamos visto em algum lado, que o vizinho já tenha feito. Mesmo que o vizinho tenha uma vinha e nós, um pomar. Nem pensar em arriscar fazer algo diferente e original, que isso soa logo a “perder dinheiro”.
Só arriscamos quando investimos, porque aí sabemos o que e quanto o dinheiro que lá pusemos nos pode devolver. E como sabemos isso até ficamos dispostos depositar os euros, que nos custaram tanto a ganhar, em novas tecnologias, consultores bem pagos, pessoal especializado. Mais uma vez, os investimentos são feitos a pensar no futuro. Os gastos, apenas no imediato.
Há muitos anos que tento transmitir que a comunicação, ao contrário do que muitos pensam, especialmente nos setores agrícola e florestal, pode ter retorno financeiro. Quando é bem planeada, relevante e original. E não, não falo de vendas ou de clientes. Falo de construção de marca, de imagem e de reputação. Quanto vale a marca da sua empresa? Quanto vale a reputação dos seus serviços ou produtos?
Fazendo as contas ao contrário, quanto é que a sua empresa já terá perdido por ao longo dos últimos dez, vinte anos não ter investido em comunicação? E quanto é que poderá perder mais se continuar a insistir na ideia de que a comunicação é supérflua?
Pondo isto num contexto bem claro para todos: quanto é que os setores agrícola e florestal já terão perdido, nas últimas décadas, em imagem, em reputação e em marca, por não terem apostado numa boa comunicação?
A comunicação é um investimento, sim. Palpável, mensurável. Mas enquanto continuarmos a comunicar só para dizer que o fizemos, porque nos sobraram uns trocos que dão para pagar aos “miúdos que nos fizeram o site”, enquanto não percebermos para que serve efetivamente a comunicação, é como jogarmos a feijões. É giro para passar a tarde, mas saímos tão pobres do jogo como entrámos. Só que até mesmo a melhor tarde passada a jogar a feijões nos consome tempo.
E tempo é dinheiro. Que o digam o vosso pomar ou povoamento.
Consultora em Comunicação de Ciência
Editora e Redatora na “Cadernos de Campo” (cadernosdecampo.pt)
Comunicar agricultura: dois mais dois são quatro? – Cristina Nobre Soares