Conseguir produzir, com menos desperdício de água, e mantendo a qualidade é o grande objetivo de todos os produtores. Para isso há uma crescente adesão a técnicas e tecnologias que permitem uma gestão otimizada dos recursos hídricos. Rega gota a gota, sensores que dão, ao pormenor, o estado exato da planta, e reutilização das drenagens e água não consumida (que é reintroduzida no sistema de rega) são apenas algumas das técnicas já utilizadas pelos agricultores portugueses.
A seca começa a ser algo habitual em Portugal. Sendo que é um cenário com tendência a agravar-se. E, por isso mesmo, é essencial a gestão eficiente da água e dos recursos hídricos. A agricultura é, para muitos, considerada como uma “gastadora”. Mas será mesmo assim? É certo que segundo a Agência Portuguesa do Ambiente o setor é responsável por um terço do consumo de água na Europa. Sobre Portugal especificamente, Pedro Horta da Zero afirma que a agricultura, enquanto setor, é de longe o principal usuário de água em Portugal, sendo responsável por cerca de 70% das extrações para uma superfície regada que rondará os 560 mil hectares, 6% do território nacional. A questão que se prende é que tudo indica que, com as alterações climáticas, essa pressão fique ainda mais expressiva – os números divulgados pela Zero indicam que nos últimos 20 anos a precipitação em Portugal e Espanha tenha diminuído 15%, com uma redução das disponibilidades em cerca de 1/5.
Na opinião de Pedro Horta, a agricultura (incluindo a pecuária) não é só um setor que coloca pressões quantitativas sobre o recurso água, mas também quantitativas, de forma muito dependente dos sistemas de produção e práticas associadas. A poluição difusa derivada da gestão de estrumes e efluentes pecuários, fertilizantes de síntese e outros inputs pode levar à contaminação das massas de água, superficiais e subterrâneas, afetando a disponibilidade dos recursos hídricos e/ou os seus custos de tratamento.
O que tem de se fazer é utilizar a água da forma mais racional possível para gastar apenas a necessária. Luís Mira
Secretário-geral da CAP
Já Luís Mira, secretário-geral da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, contrapõe, afirmando que na agricultura a água não se gasta, utiliza-se. “Não é possível produzir alimentos sem utilizar água. Portanto, o que tem de se fazer – e é o que se faz de forma crescente – é utilizar a água da forma mais racional e eficiente possível para usar apenas a que é necessária à produção”.
O secretário-geral da CAP afirma que tem havido uma evolução positiva no setor, com apostas crescentes na tecnologia e na inovação. “Os empresários agrícolas têm vindo a investir em sistemas de rega gota a gota, de precisão, com recurso a estações meteorológicas e sondas que medem os níveis de humidade no solo. A técnica tem vindo a evoluir no sentido de se utilizar somente a água necessária para produzir alimentos e para não entrar em stress hídrico. A facilidade que a digitalização dos sistemas trouxe à gestão eficiente da água foi importantíssima para afirmar este caminho de otimização”, explica. A isto Pedro Horta acrescenta que os ganhos importantes de eficiência, como a adoção de certas tecnologias de regadio (rega em alta pressão, gota a gota, sondas), podem ser postos em causa com a expansão de um modelo assente em sistemas agrícolas totalmente dependentes de rega, sobretudo quando continuamos a ver aumentos nas necessidades hídricas.
O ambientalista refere que “sem limites claramente definidos as ‘reservas estratégicas’ de água deixam de o ser, […]