O comentador da SIC Germano Almeida analisa a oferta de cereais feita pelo presidente russo a seis países africanos, considerando-a uma tentativa para comprar aliados.
O presidente russo Vladimir Putin anunciou na cimeira Rússia-África que poderia enviar de forma gratuita entre 25.000 e 50.000 toneladas de cereais a seis países africanos nos próximos quatro meses. O comentador da SIC Germano Almeida analisa esta oferta de Vladimir Putin.
Putin admitiu que este ano a Rússia teve uma colheita de cereais recorde e que poderá oferecer parte a seis países africanos. Germano Almeida explica que isto é, na verdade, um roubo à Ucrânia.
“Quando Putin diz que teve uma colheita recorde este ano, teve uma colheita recorde porque roubou cereais à Ucrânia, ocupando quatro regiões como bem sabemos que duas delas são fundamentais para a questão dos cereais, a sul, Zaporíjia e Kherson”, afirmou o comentador, sublinhando que “depois, mais uma vez, oferece cereais que roubou, ou seja, é integrado numa lógica absolutamente ilegal de Putin, já está a considerar que a parte ocupada da Ucrânia é da Rússia”.
Na opinião do comentador, a cimeira está a correr mal a Putin porque “esperava mais de 40” líderes africanos e estiveram presentes apenas 17.
“Putin não estava à espera que o presidente da União Africana, começando até por agradecer à Rússia por nos últimos anos ter ajudado esses países em desenvolvimento, ganhou credibilidade para o que ia dizer a seguir, disse que a guerra russa na Ucrânia está a ser uma desgraça para esses países porque está a levar esses países à destruição coletiva e, portanto, teria de parar a guerra”, destaca Germano Almeida.
Para Germano Almeida, esta oferta por parte da Rússia é uma tentativa de comprar aliados e de Putin dizer “esqueçam os cereais ucranianos, estão dependentes de mim”. Na ótica do comentador, estas soluções são “anacrónicas” e admite que a “Rússia é um país, cada vez mais, com um comportamento anacrónico no que devem ser as relações internacionais”.
Putin reconheceu, pela primeira vez, que a contraofensiva ucraniana está a ser difícil e que os combates estão a ser duros e intensos na zona de Zaporíjia. E apesar da Rússia ocupar quase 1000 mil quilómetros quadrados na Ucrânia, Germano Almeida relembra que a Ucrânia está a fazer avanços e “sem dimensão aérea, não há exemplo na história que alguém, numa ofensiva, tenha tantos avanços sem essa dimensão aérea”.
A Ucrânia reivindicou, também pela primeira vez, ataques com drones em solo russo e para o comentador isto pode demonstrar uma mudança de posicionamento e é também uma forma de demonstrar que os ucranianos conseguem “incomodar a Rússia no seu próprio espaço ”.
“Demonstrar que tem a capacidade de incomodar a Rússia no seu próprio espaço e depois esse lado simbólico de mostrar ao povo russo, que como sabemos está sobre uma propaganda em que acha que não há guerra ou então que as coisas estão a correr muito bem à Rússia, mostrar ao povo russo que estando a li em Moscovo, tão longe de espaço ucraniano, não fica completamente imune ao crime russo no lado ucraniano.”
Tensão com o Grupo Wagner
Sobre a Polónia estar em alerta para aquilo que pode ser um ataque em território próprio por parte do Grupo Wagner, Germano Almeida considera que “Putin teve o problema interno do grupo Wagner e conseguiu pelo menos divergir no problema interno, criando essa questão da ameaça ao espaço NATO, nomeadamente à Polónia e aos Países Bálticos, e não podemos ignorar, a partir do momento em que coloca o grupo Wagner e que tem 10 ou 20 soldados Wagner tão perto da fronteira, há de facto esse problema ”
A Polónia e os Países Bálticos, estão mesmo a admitir fechar a fronteira com a Bielorrússia, porque eles sabem que é relevante, porque Putin pode explorar a questão de ‘não temos nada a ver com isso, não são soldados russos, não é a Rússia que está a atacar’”.
O comentador não acredita que o Grupo Wagner invada a Polónia, no entanto ressalta que os membros do grupo são “peritos em coisas como atos provocativos, sabotagem, fazer coisas e depois acusar o outro lado”.
“Putin quando manda bombardear no Danúbio, uma zona em que estava de um lado Ucrânia do outro lado Roménia, tem interesse em lançar a ideia de que a qualquer momento pode criar uma provocação à NATO e a verdade é que está a conseguir lançar esse problema.”.