A indústria do setor tem de recorrer à importação para responder à procura crescente de produtos de base florestal.
Em todo o mundo, as florestas plantadas representam apenas 7% da área total de floresta, mas respondem globalmente a cerca de 70% das necessidades industriais de madeira, o que traduz bem a importância destas plantações para a sociedade e a economia. Em Portugal, as florestas constituem, hoje, mais de 3,4 milhões de hectares e 39% do nosso solo, de acordo com a Carta de Uso e Ocupação do Solo de 2018 (COS2018), enquanto no final do século XIX uma estimativa publicada em “Geografia e Estatística Geral de Portugal e Colónias como um Atlas”, relatava uma área de apenas 7%. Um crescimento que se fez por via das florestas plantadas.
O desenvolvimento da indústria de base florestal em Portugal deu origem a um setor com elevado Valor Acrescentado Nacional (pois incorpora muita mão de obra e matéria-prima portuguesa), responsável por cerca de 5% do PIB e, em 2022, por 9,1% das exportações nacionais, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
A mesma fonte revela que, no ano passado, o valor das exportações florestais aumentou, pelo segundo ano consecutivo, para 7,1 mil milhões de euros, o mais elevado de sempre, o que demonstra a importância do setor no comércio internacional português. No entanto, a produção florestal não tem acompanhado o aumento internacional da procura, comprometendo a evolução dos clusters industriais atuais e os que, entretanto, irão emergir, fruto do crescimento de muitas das presentes utilizações, mas igualmente dos novos usos em bioprodutos.
A título de exemplo, refira-se que a Europa consumiu, em 2022, mais de 8 milhões de toneladas de fibras de eucalipto, mas apenas produz 30% das suas necessidades – e toda essa produção ocorre na Península Ibérica, única geografia europeia com condições edafoclimáticas para o fazer. O restante é importado da América Latina, com os evidentes desequilíbrios na balança comercial, com risco para a resiliência e segurança das cadeias de abastecimento europeias e, ainda, com o agravamento da pegada carbónica inerente às emissões envolvidas no transporte de longa distância.
Esse constrangimento de matéria-prima – seja devido a limitações à plantação, como no caso do eucalipto, a problemas fitossanitários e de envelhecimento, como no dos montados, ou à redução da área de produção, como acontece na fileira do pinho –, tem exigido um aumento das importações. Isto apesar do potencial produtivo existente ainda no nosso país: não só 12% do território está ocupado por matos e incultos (COS2018), a maioria sem valores de conservação, que poderiam ser ocupados com floresta, como a produtividade das áreas atuais pode ser fomentada através de melhores práticas silvícolas.
Só em madeira de eucalipto, a Biond, associação das bioindústrias de base florestal, revela que o País importou no ano passado mais de 375 milhões de euros. Os números do “Outlook Florestal – Fileira do Eucalipto”, do Millennium bcp, especificam que as importações de madeira em bruto, de qualidade inferior à nacional, têm vindo a registar um aumento gradual desde 2017, na ordem de 14,5% ao ano, o que representa uma variação total de 97%, desde 2017 até 2022.
No setor da cortiça, em 2022, o ritmo de crescimento da indústria obrigou à importação de 53,9 mil toneladas de cortiça natural em bruto ou preparada, num montante de 138 milhões de euros, segundo o INE.
No relatório “Indicadores da Fileira do Pinho” referente a 2022, elaborado pelo Centro PINUS, encontra-se a estimativa de que o défice deste tipo de madeira representou, no ano passado, 56% do consumo industrial.Artigo publicado originalmente na revista n.º 12, de dezembro de 2023, que pode ler na íntegra em https://produtoresflorestais.pt/quero-receber-a-edicao-da-revista-em-papel/
(Dados referentes a Portugal; Fonte: “Indicadores da Fileira do Pinho”, 2022, Centro PINUS)
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.