A associação Avadouriense reclamou hoje ao Governo apoios “urgentes e justos” para os produtores afetados pela queda de granizo, em Vila Real, e a criação de “um seguro público adequado” à agricultura familiar.
Na sequência do mau tempo que se verificou na segunda-feira ao final da tarde, a Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense (Avadouriense) disse, em conferência de imprensa que decorreu no Peso da Régua, que, este ano, muitos produtores “apenas vão colher avultados prejuízos”.
A Avadouriense reclamou ao Ministério da Agricultura e ao Governo “apoios urgentes e justos para os produtores afetados e a criação de um seguro público adequado à agricultura familiar”.
“Os prejuízos rondam os 80% para alguns agricultores e alguns nem vão ter uvas suficientes para o vinho do Porto. Por isso, para além de apoios diretos, pedimos que seja permitida nos próximos anos a reposição do benefício”, afirmou Vítor Herdeiro, dirigente da associação, criada em 2020 e que tem sede em Vila Real.
O responsável descreveu uma queda de granizo “como nunca visto desde há cem anos” e estragos na vinha, desde pâmpanos partidos, uvas destruídas, varas quebradas com poda em risco e até videiras esfoladas, e apontou ainda prejuízos em frutícolas, hortícolas, olival, amendoal.
O mau tempo incidiu essencialmente em freguesias de Vila Real inseridas no Douro, como Abaças e Guiães, mas atingiu também algumas aldeias do concelho vizinho de Sabrosa.
A associação alertou para “a situação de estrangulamento dos pequenos e médios viticultores durienses, que se agrava a cada dia que passa, perante problemas crescentes e perante a inoperância do Ministério da Agricultura e do Governo”.
“Nós precisamos mais do que nunca da Casa do Douro e numa situação destas, de calamidade, a instituição fazia os seguros coletivos e funcionava muito bem. Isto vem, mais uma vez, provar que a Casa do Douro faz muita falta”, afirmou Vítor Herdeiro.
Para este responsável, “a Casa do Douro como instituição pública de inscrição obrigatória, com a devolução dos seus poderes públicos, nomeadamente a regularização de preços no mercado e a comercialização de excedentes, é fundamental para o equilíbrio da região e para a salvaguarda dos direitos dos pequenos e médios viticultores”.
Por isso mesmo defendeu a “realização de eleições urgentes” para a instituição, o “cumprimento da lei n.º 73/2019 e a concretização do processo eleitoral “sem mais desculpas sem fundamento ou outros expedientes atrás dos quais o Governo esconde as suas intenções”.
A lei, que entrou em vigor em 01 de janeiro de 2020 e foi aprovada na Assembleia da República, reinstitucionalizou a Casa do Douro como associação pública e de inscrição obrigatória e determinava a realização de eleições para os órgãos sociais. No entanto, um ano e meio depois o processo eleitoral continua suspenso.
Para a Avadouriense, “cada vez é mais difícil para os viticultores obterem rendimentos dignos que lhes permitam assegurar a continuidade das suas explorações”.
Por isso considerou que o aumento dos preços do vinho do Porto e vinho de qualidade produzido em região determinada (VQPRD) “é determinante para que os viticultores e as suas famílias possam ter uma vida digna e viverem do seu trabalho”.
Nesse sentido, a organização reclamou para o vinho do Porto um preço de 1.250 euros a 1.500 euros por pipa (550 litros) e para o VQPRD entre 500 a 600 euros por pipa, e o aumento do benefício para as 120 mil pipas.
Em 2020, a Região Demarcada do Douro transformou um total de 102.000 pipas (550 litros cada) de mosto em vinho do Porto, uma diminuição de 6.000 pipas face a 2019 e que refletiu as quebras de vendas ocorridas no mercado nacional e internacional devido à pandemia de covid-19. O quantitativo incluiu uma reserva qualitativa de 10.000 pipas.
No dia 14, em Lisboa, a Avadouriense vai juntar-se à Confederação Nacional da Agricultura (CNA), numa manifestação que visa dizer “não” à reforma da Política Agrícola Comum (PAC) e se realiza por ocasião da reunião dos ministros da Agricultura da União Europeia.