Os resultados preliminares do Programa de monitorização do impacte das redes usadas para proteção dos tanques das aquaculturas do Estuário no rio Mondego, desenvolvido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), revelam uma diminuição de ocorrências que culminaram em morte de aves. Por outro lado, o programa do ICNF, através de registos de câmaras de fotoarmadilhagem, confirma a presença de indivíduos de espécies com estatuto de ameaçadas, nas explorações em acompanhamento.
Os dados referentes ao segundo ano de monitorização (2022), ainda em fase de revisão, permitem confirmar a utilização das explorações como área de passagem, de alimentação e, possivelmente, de reprodução, pelas aves. Face ao primeiro ano de monitorização (2020-2021), houve uma diminuição de ocorrências, de 35 ocorrências (mortes e ferimentos) para 25, com óbito em 24 registos. A espécie com maior número de indivíduos afetados foi o corvo-marinho (Phalacrocorax carbo), ave com hábitos oportunistas e requisitos ecológicos generalistas.
Os resultados demonstram como as explorações são também frequentadas por espécies com estatuto de ameaçadas no Livro Vermelho dos Vertebrados. As câmaras de fotoarmadilhagem captaram imagens de um indivíduo de garça-vermelha (Ardea purpurea), espécie com estatuto “Em Perigo”, a sobrevoar os tanques de uma das explorações monitorizada. Mas não se registou qualquer acidente nas redes de proteção nas explorações onde este método de amostragem está a ser concretizado.
A ocorrência resultante em morte, numa espécie com estatuto de “Vulnerável” – o maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos) –, registou-se fora da abrangência do dispositivo montado.
Programa com visitas a sete explorações
No Estuário do rio Mondego ocorrem mais de cento e oitenta espécies de aves, de entre as quais espécies com estado de conservação desfavorável no Livro Vermelho dos Vertebrados. Desde 2020, face ao registo de mortalidade de aves em redes de explorações de aquacultura no concelho da Figueira da Foz, a Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Centro (DRCNF-C) desenvolve um programa de monitorização. Entre os principais objetivos está a caracterização e avaliação da afetação da avifauna, por ferimentos ou morte, causada pelas redes utilizadas nas aquaculturas – como vedação superior dos tanques de cultura e engorda de peixe.
A monitorização envolve visitas quinzenais de técnicos a sete explorações de aquacultura no Estuário do rio Mondego. A recolha de registos decorre da observação direta e do uso de câmaras de fotoarmadilhagem. São considerados ainda eventuais registos de ocorrências formalizados pelos proprietários das explorações e por Organizações Não Governamentais.
Os resultados do programa de acompanhamento deverão permitir a definição de medidas de atuação para mitigar o impacto da referida utilização de redes.
Artigo publicado originalmente em ICNF.