Esta semana, soube da morte de dois jovens por suicídio, um músico e uma enfermeira. Ambos sofriam de depressão e ambos foram certamente pressionados pela atual pandemia.
Não costumamos falar de depressão entre agricultores, mas ela existe. A atividade agrícola com ar livre, exercício físico, contacto com os animais e o gosto de colher o que semeámos certamente são fatores de proteção. Mas o trabalho solitário, o fraco rendimento, a incerteza face ao futuro e a “guerra psicológica” de ativistas contra a agricultura e pecuária podem ser fatores de perturbação que potenciam a depressão entre a comunidade agrícola.
Num texto anterior sobre este assunto (Precisamos de falar – o suicídio entre os agricultores) apontei duas explicações possíveis para, apesar das dificuldades económicas, termos em Portugal menos suicídios entre agricultores do que noutros países, como França e Estados Unidos. Referia-me à missa e ao café (local físico). O café era ponto de encontro, convívio e oportunidade para desabafar. A missa também, convívio no adro, abraço da paz no interior, espírito de comunhão, comunidade, consolação, esperança e tudo o mais que significa a religião para os crentes.
O covid obrigou-nos a fechar cafés e igrejas. Já abriram, mas a distância que temos de manter não permite o mesmo contacto. Para evitar o crescimento descontrolado da pandemia (nenhum sistema de saúde público e privado seria capaz de dar resposta a toda a gente doente ao mesmo tempo), pedem-nos novamente para reduzir contactos e só viajar em caso de necessidade. Na europa há países que já impuseram recolher obrigatório e outros que fecham hoje bares e cafés.
O confinamento/isolamento dos agricultores na primeira fase da pandemia na primavera / verão tirou-nos as feiras agrícolas, mas tínhamos o trabalho nos campos com as atividades das sementeiras da primavera, tratamentos, regas, colheitas e sementeiras de outono. Chega agora o tempo, entre novembro e março, em que empresas, cooperativas e associações costumavam organizar reuniões, colóquios e cursos de formação. Aproveitávamos algum tempo livre disponível e animávamos os dias cinzentos e chuvosos do inverno. Não poderemos fazer isso presencialmente nos moldes habituais mas devemos organizar o que for possível para manter o contacto.
No passado dia 10 de outubro celebrou-se o dia mundial da saúde mental. No Canadá, o meu colega Farmer Tim escreveu que celebrou este dia caminhando “pelo campo ondulado, passando por árvores pintadas, ao longo de estradas de cascalho e riachos borbulhantes. Respirei o ar fresco do outono e agucei meus sentidos para os sons do mundo natural ao meu redor. Por um curto período, minha mente foi aliviada de minhas preocupações opressivas.
Este foi um ano excecional, com muitos de nós presos em casa ou com nossas vidas viradas de cabeça para baixo. Para alguns, pode ter sido o ponto crítico de uma vida já turbulenta. Todos nós já estivemos estressados de uma forma ou de outra.
Muitos de nós lutamos mais do que você imagina. As redes sociais estão cheias de histórias felizes, momentos divertidos e famílias sorridentes. No entanto, na realidade, ninguém tem uma vida perfeita e ninguém está imune aos efeitos do stresse mental. A boa notícia é que ninguém precisa lutar sozinho. Há ajuda e há pessoas dispostas a ouvir.
Hoje caminhei não só por mim, mas por amigos, famílias, vizinhos – e você. Limpar a minha mente e melhorar a minha saúde me dá força e resistência para tentar ajudar os outros, mesmo que seja apenas de uma forma pequena. Estamos todos juntos nisso e todos precisamos fazer a nossa parte”
Que podemos fazer para prevenir sentimentos depressivos? Citando Carla Teixeira, Psicóloga, “Prevenir a depressão passa essencialmente por ter um estilo de vida saudável e pedir ajuda aos primeiros sinais de alerta. Para além da alimentação equilibrada, do exercício físico e do número de horas de sono correto, evite ficar sozinho. (…) Contacte familiares e amigos” (…) Se tiver episódios de ansiedade, ataques de pânico ou alguma combinação dos sintomas referidos anteriormente num período superior a 2 semanas, não hesite: peça ajuda especializada.”
Um abraço a todos os que se sintam sozinhos, desanimados ou deprimidos. Não posso fazer muito mais, além de continuar por aqui a escrever estas coisas e ler o que quiserem comentar. E obrigado ao António Campos de Famalicão que se levantou uns minutos mais cedo que eu e tirou esta foto do nascer do sol que serve para lembrar que depois da noite, das nuvens e da chuva o sol volta a nascer.
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