Numa era repleta de desafios, associados aos efeitos das alterações climáticas e à incerteza que se vive até ao momento da colheita, celebrar o Dia da Produção Nacional reveste-se, ano após ano de uma importância ainda mais especial. É uma oportunidade única de partilha de uma consciência que deve ser coletiva sobre o papel vital que os agricultores desempenham no nosso quotidiano; e de assinalar a sua resiliência, capacidade de adaptação e transformação, para assegurar a otimização das produções e garantir que nos chegam à mesa alimentos seguros, em quantidade suficiente e produzidos num total respeito pelo ambiente e pelos recursos naturais.
O trabalho desenvolvido entre agricultores, ciência e indústria tem-nos mostrado que é possível implementar estratégias que elevam a produtividade, num rigoroso padrão de sustentabilidade e que permitem ao setor responder aos desafios do presente. Hoje, mais do que produtor de alimentos, o agricultor assume um papel de guardião do planeta.
Por isso, celebrar o dia da produção nacional é comemorar a evolução e as conquistas do setor, mas é também alertar para os desafios que temos por diante.
Comemorar uma evolução bem patente nos campos: quem se embrenha no setor e conhece as explorações agrícolas profissionais que nos colocam os alimentos na mesa, todos os dias, todo o ano, apercebe-se da tremenda adoção de tecnologia e inovação que está em curso. Desde práticas agrícolas assentes numa lógica de uma intensificação sustentável (tendo em conta a inevitável preservação e promoção da biodiversidade, fazendo contas exaustivas à possibilidade de armazenar carbono através de técnicas como a agricultura de conservação ou regenerativa); até à utilização de maquinaria que tem mais tecnologia que muitos automóveis que hoje conduzimos e julgamos serem já bastante avançados. Ou seja, para os agricultores já está claro e é urgente que todos tomemos consciência que enfrentar os desafios de um planeta em mudança só será possível por via da otimização pela ciência, inovação e tecnologia. Desbloquear tecnologias chave, como a utilização de drones para os tratamentos fitossanitários, que permitem pulverizações localizadas e precisas, recorrer às novas técnicas genómicas – uma forma de biotecnologia verde que permite adaptar as plantas às alterações climáticas, tornando o setor e a nossa alimentação mais resiliente – ou ainda disponibilizar produtos fitofarmacêuticos de última geração que complementem as soluções já existentes e que permitam corresponder às exigências dos mercados atuais, são apenas alguns exemplos de tecnologias que já são permitidas noutras geografias e que a Europa tarda em decidir ou restringir. Mais do que produzir alimentos, com recurso à tecnologia avançada, o setor agrícola é capaz de assumir um compromisso sólido com a natureza, beneficiando o produto final que chega às nossas mesas, assegurando a manutenção da biodiversidade, renovação dos ecossistemas e sustentabilidade do planeta.
Há que confiar e dar meios aos agricultores nacionais e europeus que, campanha após campanha, povoam os nossos campos, que são base do nosso turismo e que estão sempre nos nossos roteiros, nas nossas viagens, seja quando queremos provar uma iguaria gastronómica típica de uma região ou para ver aquela paisagem tão específica e cuidada, que nos corta a respiração. Falar de todas estas riquezas de que não queremos abrir mão, é agradecer, inquestionavelmente, aos nossos produtores nacionais.
Por isso, estar ao lado dos profissionais, capacitando-os para a implementação destas ferramentas no seu dia-a-dia é dar suporte à sua atividade e garantir a competitividade da produção nacional. Celebrar esta data, é abraçar a ciência e o papel vital que desempenha na agricultura moderna e na forma como produzimos alimentos. Ao promover a eficiência e sustentabilidade, a tecnologia está a impulsionar a produção de alimentos seguros, de uma economia rentável e competitiva, e, acima de tudo, de profissionais cada vez mais capazes.
João Cardoso
Diretor Executivo da CropLife Portugal