É um dos grandes curadores mundiais de arte contemporânea. Foi o primeiro diretor artístico do Museu de Serralves, que lançou no Porto e colocou no topo do meio internacional. É um apaixonado por gastronomia e por agricultura. Coleciona árvores de citrinos de todo o mundo nas terras da fundação que criou há dez anos numa aldeia do sul de Espanha, Palmera. É aqui que faz uma visita guiada à grande paixão que tem pela vida
Nestas terras há limas e bergamota, tangerinas e limões, kumquat e laranjas amargas. Para estar completa e precisa, a lista teria de incluir os nomes em latim das 480 variedades de citrinos que crescem nestes seis hectares de terra. De cada variedade, há pelo menos cinco árvores no Huerto Botánico el Bartolí. É aqui a sede da Todolí Citrus Fundació, na aldeia de Palmera. Com visitas guiadas de novembro a abril, às sextas e aos sábados.
Pouco depois da entrada há um jardim de palmeiras. O criador desta coleção de citrinos veio abrir o portão e começa a contar a história de cada planta, antes de chegar ao pé das árvores do horto. Chama-se Vicente Todolí, fala muito depressa e cresceu por aqui, a saber que era preciso estudar para fugir ao trabalho na agricultura. Depois de passar por uma crise pessoal quando vivia em Nova Iorque, percebeu que tinha de voltar a ter uma ligação à terra. Aos fins de semana tenta estar por aqui, entre as árvores de citrinos que crescem seguindo padrões científicos e estéticos.
Daqui a mais de uma hora aceitará parar e sentar-se ao ar livre, junto a uma mesa corrida que está ao lado da antiga casa de ferramentas do pai. O pequeno edifício foi alterado pelo arquiteto Carlos Salazar, dando origem a uma biblioteca especializada, a uma loja e a um laboratório preparado para a investigação gastronómica. Por enquanto, o colecionador de citrinos quer conversar enquanto anda pelo meio das árvores, acompanhado de um ajudante que traz uma tábua de madeira e uma faca comprida e bem afiada. Todolí fala de forma apaixonada. Quer dar a provar cada citrino. E é preciso cheirá-los e tocar nas folhas.
Fala sobre gastronomia, sobre perfumes, sobre farmacologia, sobre o instituto de investigação científica que colabora com a fundação, sobre a ligação a chefes de cozinha, sobre uma das variedades de citrinos que está em extinção porque nos supermercados só entram frutos muito regulares, sobre um cozido que a família sempre fez com a carne produzida no pombal. Pelo caminho, contará como a história dos citrinos está ligada à história da Humanidade e em particular à História da Arte.
Ao passar por umas romãzeiras, mostra no telemóvel a reprodução de uma imagem do séc. XIII, de um horto com citrinos e romãzeiras, porque as romãzeiras têm cor numa altura do ano em que as árvores de citrinos não têm. Esse é um dos cuidados estéticos que se nota na composição do horto, onde cabe o som de água a pingar sobre pequenos tanques. E onde crescem barreiras feitas de árvores, para evitar o confronto visual com a pressão urbanística. […]