Os produtores, exportadores, associações interprofissionais e representativas e comissões vitivinícolas com ações promocionais previstas para este ano na Rússia e na Ucrânia podem recolocar esses investimentos noutros mercados, anunciou o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV).
“Junto de todos os exportadores, que nos últimos anos têm consubstanciado um crescimento notável das exportações dos Vinhos de Portugal, queremos desde já manifestar o nosso total compromisso em facultar alternativas de investimento nos mercados, através dos apoios consubstanciados no Plano Nacional de Apoio ao Setor Vitivinícola (PNASV)”, refere o IVV numa carta dirigida na passada quarta-feira aos exportadores de vinhos de Portugal, a que a agência Lusa teve hoje acesso.
Designadamente no que se refere aos Planos de Promoção para Países Terceiros, no âmbito das candidaturas submetidas ao Programa 1/22, o IVV diz terem sido contabilizadas atividades promocionais na Rússia e na Ucrânia que totalizam “cerca de 1.150 milhões de euros de investimento”.
“Queremos ressalvar que estão, desde já, garantidas as condições para, em sede de pedido de modificação, todos os produtores, exportadores, associações interprofissionais e representativas e comissões vitivinícolas com ações promocionais previstas na Federação Russa e na Ucrânia em 2022 poderem, em alternativa, realocar esses investimentos noutros mercados de países terceiros”, avança.
O IVV salienta que “os mercados prioritários para as exportações dos vinhos nacionais […] têm ainda franco potencial de desenvolvimento” e destaca, entre os “mais importantes”, o Brasil, os EUA e o Canadá, que “continuam a demonstrar uma enorme abertura para as exportações nacionais”.
Por outro lado, refere, “os mercados vizinhos dos países e das populações mais afetadas por esta guerra [entre a Rússia e a Ucrânia] carecem neste momento de uma atenção particular”.
“E, sendo previsível que no mercado global o nível de competitividade deverá a curto prazo intensificar-se, queremos realçar junto de toda a fileira vitivinícola o compromisso para – se necessário for – adequar a dotação do Programa de Promoção para Países Terceiros”, acrescenta.
O objetivo, segundo explica o IVV, é “validar, dentro do quadro regulamentar, todas as candidaturas já apresentadas ao IVV para execução do investimento proposto para o decorrer do presente ano”.
“O momento é difícil para a Europa e Portugal. Mas não nos fará desviar da rota do bom sucesso quanto aos objetivos estipulados pelo setor para as exportações nacionais, nomeadamente o de atingirmos em 2023 o valor total de 1.000 milhões de euros de exportações”, remata o IVV.
Na carta enviada aos exportadores de vinho, o instituto prevê que o setor vitivinícola português “não passará incólume” aos impactos da invasão militar da Ucrânia pela Rússia.
“A nossa preocupação é desde logo dirigida para a imediata perda de volume de negócio dos principais exportadores portugueses nos mercados da Federação Russa e da Ucrânia”, precisa.
Paralelamente, o IVV aponta os “constrangimentos financeiros que já resultam da imposição de sanções no decorrer dos últimos dias, em particular no que se refere aos obstáculos criados ao regular funcionamento do sistema financeiro, incluindo o sistema de seguros de crédito”.
Na madrugada de 24 de fevereiro, a Rússia lançou uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de 100 mil deslocados e pelo menos 836 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.