No dia em que se assinalam três meses do início da guerra, a jornalista Susana André, que passou três semanas em Odessa falou na Edição da Manhã da SIC Notícias sobre a situação no Porto do Mar Negro, onde os navios de guerra russos impedem a saída de produtos alimentares.
O trigo armazenado para consumo humano acaba daqui a dez semanas, dois meses e meio. O alerta foi deixado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas por uma organização internacional, especializada em questões agroalimentares. É metade do tempo que tem sido avançado pelos governos mundiais. Na Ucrânia, celeiro do mundo, estão neste momento 23 milhões de toneladas de trigo a apodrecer no porto de Odessa, devido ao bloqueio do Mar Negro, provocado pela ocupação russa. Países como a Moldávia ou o Líbano recebem da Ucrânia 80% do trigo que consomem. 1.7 biliões de pessoas em 100 países, sobretudo no Médio oriente e na Ásia, mas também na Europa, estão já a ser afetadas pela escassez de trigo e consequente escalada de preços.
Dos 250 milhões de toneladas de produtos alimentares que a Ucrânia exporta todos os anos, 160 mil viajam por mar. Não há infraestruturas para transportar essas mercadorias por terra, até porque a bitola ferroviária ucraniana é diferente da dos países vizinhos. Quando o trigo, por exemplo, chega à Polónia ou à Moldávia, é preciso transferi-lo para outro comboio – uma operação que demora pelo menos três semanas.
O mundo não tem um plano b para a escassez de cereais e a situação poderá provocar uma crise alimentar à escala global.
A Rússia, que também funciona como celeiro do mundo, prepara-se para tirar partido do que plantou. Putin tentará usar esta frente para as vitórias que não tem conseguido alcançar no campo de batalha.