A contínua deterioração do conflito no Sudão, onde 42% da população está sujeita a insegurança alimentar, requer um maior acesso a um “fornecimento seguro de ajuda” contra o aumento da fome, segundo as agências humanitárias da ONU.
“Estamos prontos a fornecer ajuda alimentar que pode salvar vidas, mas o maior desafio é o facto de não conseguirmos aceder às comunidades mais necessitadas para o fazer”, disse hoje Eddie Rowe, chefe do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU no Sudão, numa conferência de imprensa em Genebra.
Em resposta, o chefe do escritório do PAM no Sudão apelou à comunidade internacional para que encoraje a criação de um corredor humanitário regular a partir do vizinho Chade para chegar às comunidades mais isoladas e afetadas pela fome.
Rowe qualificou de “avanço” a operação de assistência alimentar realizada na semana passada no estado do Darfur Ocidental, em que cinco camiões com 125 toneladas de alimentos chegaram do Chade Oriental para fornecer alimentos a cerca de 15.400 pessoas das aldeias de Adikong, Shukri e Jarabi.
Por seu lado, o representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Adam Yao, sublinhou que os níveis mais elevados de insegurança alimentar se registam sobretudo em locais com conflitos ativos, como Cartum ou Cordofão do Sul, estados onde 62% da população sofre de uma grave falta de alimentos.
Perante estes números, Yao sublinhou a importância de atividades de socorro coordenadas, como a distribuição de sementes de emergência a mais de 650.000 agricultores em 15 estados sudaneses, um número que se espera atingir um milhão até novembro de 2023.
“O sucesso da campanha é um lembrete da importância da agricultura como uma intervenção humanitária rentável e de primeira linha para reduzir a vulnerabilidade e reforçar a segurança alimentar e nutricional”, afirmou.
O representante da FAO também destacou o trabalho conjunto com mais de 28 parceiros locais para “garantir que os agricultores recebam a tão necessária assistência agrícola”, especialmente em locais de difícil acesso.
O Sudão está mergulhado num conflito desde 15 de abril, que opõe o exército sudanês e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), e que já provocou a fuga de mais de quatro milhões de pessoas, segundo a ONU.