A Sogrape introduziu a casta portuguesa Touriga Nacional na viticultura do Chile, país onde está presente desde 2008, e dessa iniciativa pioneira resultaram para já cinco mil garrafas de um vinho tinto e outro rosé.
O presidente da empresa, Fernando Guedes, referiu à agência Lusa que a “ideia de experimentar a Touriga Nacional” no país sul-americano nasceu por volta de 2011, “em conversa com um produtor chileno” que visitou Portugal.
A ideia singrou, mas a sua concretização, disse, foi tudo menos fácil, porque o Chile tem muitas restrições no que diz respeito a produtos agrícolas e pecuários importados. Segundo Fernando Guedes, “o processo para a legalização da casta nos serviços competentes demorou três anos”.
O responsável diz que as plantas que viajaram de Portugal para o Chile estiveram todo esse tempo “em quarentena até à autorização para serem feitas as primeiras plantações na propriedade” da Sogrape, Los Boldos, no Vale de Cachapoal, a 150 quilómetros a sul da capital, Santiago.
“Foi uma experiência. As primeiras plantas de Touriga Nacional ocuparam uma área 0, 22 hectares, para ver como a variedade se comportava localmente, porque não existia no Chile”, um país onde reinam as grandes castas internacionais como a Merlot, a Syrah e a Cabernet Sauvignon (tintos) e a Chardonnay e a Sauvignon Blanc (brancos).
“Temos um historial muito forte de trabalhar essa casta em Portugal, muito em particular no Douro, no Dão e mais recentemente no Alentejo. A que foi para o Chile é oriunda do Dão”, explicou.
Los Boldos fica nos Andes, a 600 metros de altitude. “Tem um clima muito parecido com o do Dão”, explicou Fernando Guedes, observando que foi “a primeira vez” que a Sogrape levou uma casta nacional para uma das suas propriedades vitícolas fora do país.
A empresa entendeu que “havia uma semelhança boa para ser explorada”, foi isso que fez e os primeiros vinhos, disse, deram-lhe razão.
“Têm um perfil muito mais próximo do que estamos habituados a ver no Dão do que no Alentejo, porque vai buscar a frescura e elegância dominantes naquela região”, considera.
Fernando Guedes referiu que “a viticultura na América do Sul é muito diferente” da portuguesa e é tudo mais rápido, motivo pelo qual a primeira produção ocorreu ao fim de dois anos. “Mas a primeira vinificação foi só em 2019” e com ela veio a ambição de a comercializar.
Chateau Los Boldos, a marca de vinhos chilena da produtora portuguesa, juntou este ano ao seu portefólio as primeiras 2.500 garrafas de um tinto do ano 2019 e igual número de rosé de 2020, ambos Touriga Nacional.
O presidente da Sogrape argumenta que a empresa, a maior do setor em Portugal, pretendeu experimentar e inovar, levando uma variedade nova ao setor vitícola local, que é muito tradicional também, como em Portugal.
A Touriga Nacional já é plantada na Argentina, na Austrália e mais recentemente foi autorizada em Bordéus, França. “É uma casta que ultrapassou fronteiras e começa a ter reconhecimento global”, o que, segundo Fernando Guedes, também motivou a empresa a ajudar à sua internacionalização.
“Hoje, em Los Boldos, temos plantados apenas cerca de três hectares [da casta portuguesa] e a partir de agora, como os primeiros resultados são francamente animadores, já estamos muito mais confiantes em poder aumentar a nossa produção local”, afirmou.
Los Boldos tem 170 hectares de vinha e representa “um por cento do valor” total dos vinhos produzidos pela Sogrape em Portugal, Argentina, Chile, Espanha e Nova Zelândia.
O Chile é o sétimo maior produtor mundial de vinho, segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho, e na operação que ali tem a empresa portuguesa faz um pouco mais de 2,1 milhões de garrafas por ano, agora também de touriga nacional.
Com uma produção anual perto dos 90 milhões de garrafas e um volume negócios de 250 milhões de euros, a Sogrape aposta agora no “crescimento orgânico” em vez de ser por aquisição. “Estamos numa fase de potenciar tudo o que de bom temos dentro de casa”, disse Fernando Guedes.