A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) alertou que, face à seca, toda a atividade de inverno está comprometida, destacando que a pecuária está a entrar em situação de “gravidade extrema”, pedindo a intervenção do Governo.
“Toda a atividade de inverno está comprometida e a entrar em situação de gravidade extrema no que diz respeito à pecuária e às culturas de outono e inverno”, afirmou o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa, em declarações à Lusa.
Segundo este responsável, a seca começou por afetar a região Sul, mas, neste momento, já afeta praticamente todo o território.
Eduardo Oliveira e Sousa lembrou que a chuva “é fundamental” para o abastecimento das águas subterrâneas e para a humidade superficial, consumida pelas plantas.
Assim, perante os dias de sol que se têm registado, as plantas entram em “atividade fotossintética expressiva” e, consequentemente, em carência por não terem humidade.
A pecuária está a ser especialmente afetada, encontrando-se perto de uma “fase muito complicada” no que concerne à alimentação animal.
Por outro lado, as barragens estão em níveis “historicamente baixos” e os rios sem um caudal “com alguma expressão”.
A CAP disse ainda que apenas poderia ser feita alguma coisa para contornar a situação se o país, sobretudo na região do Algarve, tivesse dessalinizadoras, evitando o consumo dos volumes armazenados nas barragens para o abastecimento humano e jardins públicos.
“O panorama é muito preocupante. Estou muito admirado por não haver já uma mensagem oficial dirigida a população em geral para que olhe para a torneira, tenha cuidado com os abastecimentos, não desperdice água de maneira nenhuma. Todo um cuidado coletivo em relação à água porque o problema da seca não se resume ao mundo rural e aos agricultores. A seca vai atingir-nos a todos. As carências começam na agricultura, mas vai haver um dia em que chegam às nossas torneiras nas nossas casas”, vincou.
Acresce a isto a subida dos preços dos fatores de produção, nomeadamente, dos combustíveis, energia elétrica ou da matéria-prima.
Conforme exemplificou a confederação, no caso do aluguer de barcos para o transporte de cereais e outros produtos para o fabrico da alimentação animal, o aumento foi de até 500%.
Assim, avizinha-se um “ano terrível” para os agricultores e a situação pode piorar se continuar a não chover.
No caso das plantas em dormência, como as fruteiras, se chover no princípio da primavera, “as coisas podem até não correr muito mal”, mas caso se verifique o contrário, será como “uma mancha de óleo a arrastar-se para todos os setores”.
Pode mesmo não ser possível avançar com algumas culturas, o que será um “problema gravíssimo até pela potencialização dos desastres de verão associados aos fogos”.
Os preços para o consumidor vão também ser impactados pela seca, devido a necessidade de “reforçar a importação, com custos acrescidos de transporte e logística”.
Perante esta situação, a CAP notou que a Política Agrícola Comum (PAC) é um instrumento financeiro que pode ajudar a mitigar o impacto, mas pediu a intervenção do executivo.
“É bom que o Governo comece rapidamente a pensar em ajudar os setores que manifestamente serão mais afetados por esta situação”, concluiu.
Na semana passada, a climatologista Vanda Cabrinha já tinha considerado que a situação de seca em Portugal, especialmente a Sul, começa a ser preocupante, salientando que ainda não chegou aos piores níveis dos últimos 20 anos para esta altura.
Em declarações à agência Lusa, a climatologista indicou, na altura, que a situação de seca “entre fraca e moderada” já se verificava no último trimestre de 2021 e que não há para já previsões de chuva significativa, pelo menos até ao fim de janeiro.
“É uma situação anormal para esta altura. Não está ao nível de uma seca como tivemos em 2005. Mas se entre o final de janeiro e fevereiro não houver precipitação, a situação poderá agravar-se imenso”, referiu.