[Fonte: Expresso] Depois de sobrevoar a área ardida em 2017, de Pedrógão a Oliveira do Hospital, o candidato do PSD disse não querer ser “pessimista” mas deixou uma série de avisos. Tudo secundado pelo perito em incêndios Xavier Viegas: “Não podemos estar descansados”
Passavam uns minutos das onze horas quando Paulo Rangel aterrou no aeródromo da Lousã. A manhã do candidato foi de passeio, mas não dos turísticos: passou-a a sobrevoar toda a área ardida nos incêndios de 2017, de Pedrógão Grande à Lousã passando por Tábua e Oliveira do Hospital, no mesmo helicóptero em que também seguia Domingos Xavier Viegas. Quando aterrou, Rangel trazia “enormes preocupações”. E enormes alertas, secundados pelo perito em fogos.
“As preocupações são enormes”, admitiu Rangel aos jornalistas, já em terra e mais concretamente no aeródromo, que acolhe o Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais. E explicou porquê: por um lado, porque o desordenamento florestal continua a “irromper”, com a mancha de eucalipto de novo em “ação”. Ou seja, mesmo nas áreas que arderam, as árvores que podem representar maior ameaça continuam a crescer sem controlo. Depois, há a questão da mudança “radical” de “regras e organização” da Proteção Civil em cima da época dos fogos.
E, por último, o facto de se manter a situação do SIRESP mesmo com a acumulação de falhas de que o Governo se foi queixando – e “diabolizando” – nos dois últimos anos. Isto um dia depois de António Costa ter assegurado, no Parlamento, que a negociação entre Estado e SIRESP estava por horas – e aberto a porta à nacionalização daquele sistema.
“Aos portugueses não interessa a questão do passa culpas, não interessa se o SIRESP é público ou privado.O que é preciso é que no terreno as pessoas tenham uma resposta”, atacou Rangel, acusando o Governo de “incompetência e incapacidade de previsão” e lembrando que a questão também é europeia, uma vez que o PSD defende a criação de uma Força Europeia da Proteção Civil. Conclusão? “Com este tipo de impreparação, depois evidentemente que as coisas podem acontecer”, avisou.
Os alertas foram confirmados por Xavier Viegas, o especialista que foi, aliás, responsável pela elaboração do relatório da Comissão Técnica Independente sobre os fogos de Pedrógão e que guiou Rangel na viagem de helicóptero. O tom não foi mais otimista. “De certo modo, o risco permanece. Mesmo nestas áreas ardidas, infelizmente não se vê muito trabalho no ordenamento dos territórios de modo que possamos estar descansados”. Até porque em “toda esta região, começando por Pedrógão”, se vê uma “regeneração do eucalipto”, confirmou. “Sem gestão, vai-se acumular combustível que em dois ou três anos pode significar que haja incêndios de grande dimensão e dificuldade de controlo”.