De pouco nos vale pedir comentários aos governantes sobre os direitos humanos no Qatar, seguir hashtags e influencers, vestir a t-shirt da Amnistia, se assobiamos para o lado quando a escravatura joga em casa
Esta semana, a Polícia Judiciária deteve quarenta pessoas no Alentejo, por suspeita de envolvimento numa rede de escravatura. A megaoperação nos concelhos de Beja e Cuba segue o rasto dos crimes de tráfico humano, associação criminosa e branqueamento de capitais. Centenas de trabalhadores agrícolas estrangeiros foram resgatados de um esquema que os obrigava a trabalhar de sol a sol, em condições desumanas. Num momento em que o Mundial no Qatar faz correr tinta – e bem -, urge compreender que a escravatura não é um problema longínquo, circunscrito aos áridos feudos do emir. A afronta aos direitos humanos está aqui mesmo, em Beja, terrível Beja.
Tudo soa a uma história que já ouvimos. Há coisa de um ano, a opinião pública nacional viveu o costumeiro minuto de indignação perante a miséria dos trabalhadores migrantes em Odemira – os tais que colhem mirtilos para a nossa dose diária de antioxidantes. À época, escrevi sobre como o litoral alentejano só é idílico para alguns. Está visto que as planícies do interior também.
O esquema […]