Os produtores de ovinos do Planalto Mirandês queixaram-se hoje de que a Páscoa não trouxe grandes vendas da carne e, se não fossem os apoios por cabeça, não se governavam, porque houve pouca saída deste produto agroalimentar.
Ilda Parada, uma criadora de ovinos de Raça Churra Mirandesa, disse à Lusa que de momento não compensa criar estes animais, acrescentando que só o faz porque gosta de ter ovelhas, mas face ao aumento de preços dos fatores de produção e da inflação, não compensa.
“Se não fossem os apoios à manutenção desta raça, não ficava nada. Porque são as grandes superfícies comerciais que ficam com o lucro, como se verificou no período da Páscoa”, disse.
De acordo com a produtora, um cordeiro com 12 quilos pode valer 50 euros, acrescentando, que, nas grandes superfícies comerciais, o quilo de cordeiro ultrapassa atualmente os 12 euros por quilo.
“Não ficamos com nada, o lucro vai sempre para os mesmos. Atualmente, o que vale são os subsídios à manutenção de raça autóctone”, rematou.
Cada ovelha de raça churra mirandesa recebe um subsidio no âmbito das medidas agro-ambientais, que tem como objetivo a preservação desta raça autóctone, em risco, no valor de 24 euros, a que acresce o prémio de ovinos e caprinos no valor de 21 euros.
Já o produtor de pequenos ruminantes, Manuel António Duarte, refere que os intermediários têm um lucro “imediato”, enquanto quem vende demora mais tempo a criar os cordeiros e os gastos são contínuos e as mais-valias nem sempre são as desejadas.
“Por este motivo, somos penalizados em relação aos intermediários. Quem compra os cordeiros são comerciantes que vêm de fora desta região, principalmente da área do Grande Porto, destinados aos restaurantes e outros clientes”, especificou.
Este produtor disse igualmente que são aos subsídios que dão por cabeça de este tipo de animais que ainda vão mantendo a produção, já que estes apoios rondam os 40 euros por animal.
“Se não fossem estes apoios, tínhamos de arrumar as botas”, enfatizou o também pastor.
Por seu lado, Maria Cristina Ventura disse que não conseguiu vender os seus cordeiros na Páscoa dado os preços baixos pagos pelos intermediários e terá de esperar por outra oportunidade.
“Para quem tem poucos animais, não compensa vender ao preço de mercado, embora sejam raças de qualidade superior. Quem tem muitos ainda se aguenta por via dos subsídios. Quem tem poucos não tem lucro, tem trabalho “, frisou.
O presidente da Associação de Criadores de Ovinos Raça Churra Galega Mirandesa, Tiago Sanches da Gama, em declarações à Lusa, disse que notou que no período da Páscoa o escoamento de carne proveniente desta raça de ovinos foi reduzido devido à inflação.
“A carne de ovelha ficou de fora da medida do IVA 0%, numa altura em que os fatores de produção aumentam. Se não houvesse apoios a esta raça, não compensaria a sua manutenção, sendo este apoio que mantém as explorações a funcionar”, acrescentou o dirigente que é também produtor de ovinos.
Esta associação, com sede em Malhadas, no concelho de Miranda do Douro, tem um efetivo de produção que ronda as sete mil fêmeas reprodutoras e cerca de 200 machos reprodutores.