Lisboa recebe esta quinta-feira seminário internacional sobre a remoção de barreiras fluviais. Ambientalistas esperam que este encontro coloque Portugal na tendência que vemos na Europa.
Já alguma vez se abeirou de um rio livre? Esta não é uma pergunta com rasteira. Em Portugal existem cerca de 250 grandes barragens e perto de 8100 infra-estruturas – parte delas obsoletas – que atrapalham a livre circulação de um rio. Por isso, não é fácil encontrar um rio que flua livremente, a maioria está represado. Um seminário internacional, que começa esta quinta-feira em Lisboa, vai abordar a necessidade da remoção de barreiras fluviais, como barragens, açudes, diques e galerias que estejam obsoletos, para aumentar o número de quilómetros com rios livres em Portugal e por toda a Europa.
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Águas paradas
As barragens e outras barreiras dos rios têm efeitos nefastos não só para a biodiversidade, mas também para a erosão costeira e as alterações climáticas. Estima-se que 70% dos sedimentos dos rios fiquem retidos naquelas barreiras e não cheguem ao mar. Isto não só deixa as praias mais vulneráveis à erosão costeira, mas também diminui a quantidade de nutrientes que vão fertilizando, a jusante, os terrenos agrícolas ao longo do curso dos rios.
Além disso, as águas paradas das albufeiras, ao acumularem sedimentos, podem provocar a multiplicação de algas e a redução do nível de oxigénio. Tudo isto acaba por gerar a emissão de gases com efeito de estufa, alimentando as alterações climáticas. Com as barreiras fluviais, “passamos de rios com uma água que corre, que tem uma temperatura baixa e com alto teor de oxigénio, para uma água estagnada, mais quente e com menos oxigénio”, resume Lorenzo Quaglietta.
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Desconstruir barragens
O biólogo explica que em Portugal a importância das barragens está muito associada à existência de reservatórios de água locais. No entanto, “70% da água em Portugal é usada para a agricultura”, recorda. Neste sentido, o regadio pode ser um problema. “Não podemos fazer agricultura intensiva em zonas que são áridas, como o Algarve”, defende Lorenzo Quaglietta.
Catarina Miranda carrega na mesma tecla. “A pressão para o regadio é imensa”, diz a bióloga. Há “a expansão de monocultura intensiva usando culturas que têm um gasto enorme de água”, sublinha, dando o exemplo do abacate, a laranja e até o cultivo de manga no Algarve.
“Não somos pelo fim da agricultura de regadio, mas temos que pensar que espécies plantar”, refere, lembrando que as directivas da UE são pela transição de uma agricultura sustentável. Por isso, a apresentação que a bióloga vai fazer no seminário será sobre desconstruir as barragens em Portugal, não só fisicamente, mas também relativamente à ideia que se tem da sua importância.
A ANP/WWF tem nas mãos a destruição física de uma barreira: o açude de Galaxes, em Alcoutim, no Algarve. A estrutura tem 37 metros de largura e dois de altura. Construído entre 2011 e 2012, o açude não cumpre o seu objectivo de retenção de água, explica Lorenzo Quaglietta. Entre Junho e Julho, dez anos depois […]