De acordo com um novo estudo da Universidade de Exeter, no Reino Unido, a pecuária intensiva pode aumentar o risco de surgimento de novas pandemias.
A agricultura industrializada é frequentemente considerada como uma forma de reduzir o risco de doenças zoonóticas devido a um melhor controlo, biossegurança e separação do gado. No entanto, esta nova investigação examinou o efeito de fatores sociais, políticos e económicos, avançando serem frequentemente negligenciados em avaliações tradicionais.
Desta forma, os investigadores concluíram que os efeitos da intensificação da agricultura e pecuária “são, na melhor das hipóteses, incertos e, na pior, podem contribuir para o risco de doenças infeciosas emergentes”.
Para os investigadores, “os riscos de surgimento e transmissão dependem de múltiplos fatores, incluindo o contato entre humanos e animais e como usamos a terra”, avançando ainda que “a pecuária desempenha um papel potencialmente significativo no que toca a estes riscos, pois moldam paisagens e são, muitas vezes, utilizados como hospedeiros, atuando como fonte ou amplificadores de patógenos emergentes”.
Para o autor principal do estudo, o professor Steve Hinchliffe, da Universidade de Exeter, “a doença é sempre mais do que uma questão de transmissão de patógenos, contato e contágio”, esclarecendo que “o mito fundamental da pecuária intensiva é que separamos o gado da vida selvagem e, assim, eliminamos o risco de transmissão de doenças entre eles, mas essas terras existem no mundo real, ou seja, edifícios e cercas podem ser danificados, os animais selvagens, como ratos ou pássaros, podem entrar, e os trabalhadores movimentam-se”.
E concluiu: “quando fatores sociais, económicos e políticos são levados em consideração, o risco de pandemia representado pela pecuária intensiva é preocupante.”
Os investigadores destacaram que, a expansão da agricultura e pecuária intensiva e a degradação ambiental resultante podem aumentar os riscos doenças infeciosas emergentes a nível mundial.
Estas práticas intensivas levam à criação de uma “paisagem mista”, dizem os cientistas, o que significa que são paisagens com uma variedade de práticas, como pecuária, e tipos de agricultura, criando assim o “pior de todos os cenários em termos de risco de doenças infeciosas emergentes”.
No que diz respeito à biossegurança, os investigadores revelam que algumas empresas agrícolas consideram os custos “debilitantes”, registando que as variações regionais também têm impacto. No entanto, neste aspeto, o autor principal do estudo afirmou que “aumentar a biossegurança, a padronização e a eficiência na produção de animais de pecuária não é o elixir mágico para alcançar um ambiente livre de doenças”.
“Em vez disso, precisamos de reconsiderar os impactos socioculturais da intensificação da produção de animais de pecuária na saúde mundial, na sustentabilidade ambiental e em termos de questões de bem-estar animal”, enfatizou Steve Hinchliffe.
Os cientistas também dão destaque aos laços estreitos entre grandes empresas alimentícias e as respetivas autoridades nacionais, o que sugere uma “captura regulatória e uma dificuldade de dissociar interesses”.
O artigo “Compreender o papel da economia e da sociedade nos riscos de surgimento de zoonoses na pecuária” foi publicado na revista Royal Society Open Science.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.