Uma carta-aberta assinada por 52 personalidades da política, do ativismo e da ciência, incluindo três Prémios Nobel, reivindicam a von der Leyen uma aposta na inovação alimentar sustentável, como fermentação de precisão, carne cultivada e proteína vegetal, para substituir os produtos à base de carne “convencional”
Dezenas de individualidades exigem uma revolução alimentar na União Europeia em nome do ambiente e do clima. Em carta aberta, publicada esta quarta-feira, garantem que a agricultura atual “é a maior causa individual de perda de biodiversidade e emite até um terço de todos os gases de efeito de estufa” e que “os maiores danos são provocados pela pecuária”. Por isso, sublinham, há que investir em alternativas, para substituir a produção de carne.
Essas alternativas propostas pelo grupo (que inclui três prémios Nobel, uma ex-vice-presidente da Comissão Europeia e três ex-comissários) passam por três pilares: substitutos de carne à base de plantas, fermentação de precisão e carne cultivada.
“A produção sustentável de proteína inclui três áreas cruciais de inovação: fermentação de precisão (uma forma avançada de fermentação, na qual microflora é utilizada para produzir as proteínas e gorduras específicas encontradas em produtos animais), carne cultivada (um método no qual células animais são criadas em larga escala em biorreactores para produzir tecidos animais verdadeiros) e alimentos à base de plantas (que inclui tudo, desde favas e leguminosas integrais a leites de plantas e hambúrgueres, salsichas e bifes à base de plantas).”
Os signatários destacam a fermentação de precisão como a mais promissora, que já consegue “produzir proteínas biologicamente idênticas àquelas que encontramos em carne e lacticínios tradicionais”, lê-se na carta, endereçada à Presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, ao vice-presidente-executivo, Frans Timmermans, aos comissários europeus Virginijus Sinkevičius, Janusz Wojciechowski, Paolo Gentiloni e a vários primeiros-ministros e ministros da Europa (em Portugal, o destinatário é António Costa e Silva, ministro da Economia).
“Empresas de fermentação de precisão aqui na Europa têm agora a capacidade técnica de produzir queijo sem produtos animais que derrete, cheira e sabe exatamente como o queijo que comemos hoje. Entretanto, além-mar, gelado, claras de ovo, hambúrgueres ‘sangrentos’ e outros produtos já estão a chegar ao mercado.”
Europeus “presos ao passado”
Os autores da missiva lamentam que a UE esteja a ficar para trás na inovação alimentar e pedem um “investimento imediato” de €25 mil milhões até 2030 (5% do alocado para o Green Deal) “para acelerar o desenvolvimento e comercialização de uma indústria europeia de proteínas sutentáveis”.
Enquanto países como EUA (onde já se vende leite de fermentação de precisão), Singapura (que disponibiliza carne cultivada), Canadá, Israel, Japão e China lideram o que chamam de “revolução alimentar”, os europeus parecem “presos ao passado”, “com a Itália a avançar para banir a carne cultivada e grandes estados-membros a não alimentarem o setor com financiamento público”.
Além dos benefícios ambientais, os signatários realçam as vantagens económicas, estimando que esta área alimentar valerá, até 2050, “1,1 biliões [milhões de milhões] de dólares em valor acrescentado bruto” e criará “9,8 milhões de empregos verdes a nível mundial”.
A carta aberta, coordenada pela ONG RePlanet, é assinada por 52 pessoas. Entre elas, encontram-se Sheldon Glashow e Roger Penrose (ambos Nobel da Física), Richard Roberts (Nobel da Medicina), Connie Hedegaard (ex-comissária europeia para o Clima), Christiana Figueres (que liderou os trabalhos que conduziram ao Acordo de Paris), George Monbiot (colunista e autor de livros de ambiente) e o músico Brian Eno.
Esta iniciativa corre em paralelo com a petição “Carne e laticínios sem matar animais. O futuro da alimentação está aqui, mas apenas se agirmos AGORA”, que esta quarta-feira, 20, já contava com 59 mil assinaturas.
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