S. procurou trabalho por quase dois meses – primeiro em Lisboa, depois na região de Salvaterra de Magos. É paquistanês, precisava de dinheiro e “qualquer trabalho servia”. Encontrou-o numa exploração agrícola na zona de Almeirim. A empresa de recrutamento pediu-lhe €500 para tratar do “processo legal”. Prometeram-lhe três meses de trabalho, ao fim de um mandaram-no para casa. “Ninguém me despediu, só me disseram que voltariam a ligar mais tarde”. Nunca mais ligaram. Já passaram dois anos e S. não diz o seu nome porque tem medo que alguma coisa lhe possa acontecer
Tem vergonha de contar. Hesita, pausa. Olha para o chão, gagueja um pouco. “Bom, sim, paguei.” Volta a calar-se. Explica depois que a vergonha começou por ser de pedir mais dinheiro emprestado ao irmão para que lhe dessem um contrato de trabalho e, hoje, o embaraço de falar naquilo que aceitou continua. “Precisava de ganhar dinheiro e se pagar €500 era o necessário para ter um contrato, então paguei.” É paquistanês e foi na agricultura na região de Almeirim, a 100 quilómetros de Lisboa, que encontrou trabalho.