A recente Conferência do Clima tinha como mote passar das promessas à ação. Mas fora o acordo para ajudar os países vulneráveis a lidar com catástrofes naturais, não foram dados passos ambiciosos para combater as alterações climáticas. A esperança transfere-se agora para 2023.
Durante duas semanas, mais de 90 chefes de Estado e representantes de 190 países estiveram reunidos com o objetivo de passar das promessas à ação e assegurar a plena implementação do Acordo de Paris. O efetivo financiamento dos países em vias de desenvolvimento para combaterem as alterações climáticas, a criação de um mecanismo de apoio a perdas e danos para as populações mais afetadas e o aumento da ambição na redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) estavam no centro da agenda. Foi alcançado um acordo histórico para ajudar países vulneráveis a lidarem com perdas e danos decorrentes das alterações climáticas, mas tudo o resto ficou aquém das expectativas e nova esperança deposita-se agora na COP28, que irá decorrer em novembro de 2023, no Dubai.
Mas, afinal, o que correu mal na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) que decorreu de 6 a 20 de novembro, no Egito? “O plano de implementação de Sharm El Sheikh não reflete a necessidade de eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis, condição essencial para assegurar um aquecimento não superior a 1,5 °C em relação à era pré-industrial. Ao invés, temos uma reciclagem do texto de Glasgow [COP realizada em 2021] que não é aceitável e que é absolutamente insuficiente para combater um dos principais problemas na génese da crise climática: a exploração e dependência excessiva dos combustíveis fósseis”, explica Francisco Ferreira, presidente da Zero ao Negócios.
É fundamental que se aproveite o ímpeto criado, direcionando agora a luta para a tarefa árdua de garantir melhores resultados na COP28.
Francisco Ferreira, Presidente da associação Zero
É certo que o acordo sobre perdas e danos há muito desejado foi alcançado já no período de prolongamento da Conferência do Clima – apesar de não se conhecerem detalhes e saber-se que só será implementado depois da COP28 -, mas Francisco Ferreira frisa que “falhar na redução de emissões em linha com o limite de aquecimento de 1,5 ºC e, bem assim, na eliminação dos combustíveis fósseis significa que todo o financiamento climático corresponde a dinheiro que pode abrandar um pouco a nossa velocidade, mas mantém-nos na autoestrada do inferno”. Por isso, “é fundamental que se aproveite o ímpeto criado em torno da justiça climática, direcionando agora a luta para a tarefa árdua de garantir melhores resultados nestas frentes na COP28”.
Também António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, sublinha que é preciso combater a origem dos problemas e não continuar apenas a atenuar as consequências. “Um fundo para perdas e danos é essencial, mas não é uma resposta se a crise climática varrer do mapa um pequeno estado insular ou transformar um país africano inteiro em deserto. O mundo precisa de um salto gigantesco na ambição climática”, publicou no Twitter no […]