A linha de crédito de 100 milhões de euros, com juros bonificados, anunciada pelo Governo para apoiar produtores de uva é uma ajuda ao Douro, pode desanuviar a tesouraria de cooperativas e empresas, mas valor é insuficiente.
A opinião é de Rui Paredes, presidente da Federação Renovação do Douro, associação que tem alertado para as dificuldades sentidas pelos viticultores no escoamento de uva e para os preços baixos de compra da matéria-prima.
Rui Paredes disse à agência Lusa que a medida anunciada pelo Ministério da Agricultura, no domingo, “vai ajudar”, isto porque, segundo explicou, pode ajudar a “desanuviar a tesouraria” de adegas cooperativas e também de operadores privados.
A linha de crédito de 100 milhões de euros, com juros bonificados, visa apoiar produtores e fornecedores da uva adquirida ou a adquirir e é uma medida que se insere na estratégia do Governo para regulação do mercado de produção de vinho, permitindo aliviar constrangimentos de tesouraria.
A portaria, assinada pelos ministros da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, cria a linha de crédito designada “Linha de tesouraria — setor vinícola”, com as taxas de juro assumidas pelo Orçamento do Estado, dirigida a cooperativas e empresas do setor que se dedicam à transformação de uva para vinho.
Rui Paredes reconhece que 100 milhões de euros é “muito dinheiro”, no entanto, considerou que se trata de um “valor insuficiente para as necessidades, nomeadamente de algumas adegas cooperativas”.
“Porque as adegas estão num esforço enorme a recolher uvas dos associados, não podem sequer pôr limites, e têm de pagar condignamente aos viticultores, o que é um fator importante para a sustentabilidade económica e social à atividade e ao território. Mas é o valor que o Governo tem disponível e que, de alguma forma, vai desanuviar a tesouraria de algumas adegas cooperativas”, salientou.
Questionado se a medida ainda pode surtir efeito nesta vindima respondeu: “Com a vindima já a meio, já poderá vir tarde no sentido de sensibilizar para a compra de mais uvas”.
O responsável reconheceu também que este Governo “está sensível à temática das dificuldades da viticultura e do escoamento do produto”.
O Douro vive num período de alguma agitação social, com os produtores a queixarem-se de dificuldade de escoamento da uva e operadores a alegaram estar com os ‘stocks’ cheios devido às quebras nas vendas de vinho, um problema que se estende a outras regiões vitivinícolas do país.
Têm acesso à linha de crédito as cooperativas e outras pessoas coletivas que se dediquem à transformação de uva para vinho.
“Esta é uma medida muito importante e que serve para apoiarmos os nossos viticultores. As cooperativas e as empresas só receberão através desta linha o montante equivalente aos pagamentos que fizerem aos produtores de uvas. A campanha de 2023 também é elegível, o que permite a regularização de pagamentos em atraso aos produtores”, afirmou o ministro da Agricultura e Pescas, citado no comunicado divulgado no domingo.
José Manuel Fernandes acrescentou que “em simultâneo as cooperativas e as empresas terão um alívio relativamente aos encargos de tesouraria resultantes dos montantes devidos aos produtores de uva” e que a “bonificação da taxa de juro de 100% é mais uma prova do forte empenho do Governo no apoio ao setor vitivinícola”.
Rui Paredes apontou para outras medidas, como a vindima em verde, proposta que o Governo apresentou à União Europeia e que poderá ser implementada a partir do próximo ano, a utilização de excedentes do Douro para produção de aguardente vínica a incorporar no vinho do Porto e uma forte aposta na promoção, com uma campanha que tenha continuidade.
“O vinho do Porto é sempre a locomotiva que nos leva a todos atrás”, frisou.
Com estas propostas e o trabalho que tem sido feito, o responsável disse estar convencido que “2025 poderá ser um ano de viragem para a Região Demarcada do Douro”.