Num recente estudo publicado pelo Prof. Nuno Palma, sob o título “As causas do atraso português”, considera-se a estatura média dos portugueses como um indicador do padrão de vida.
Segundo o mencionado autor, no início do século XIX a estatura média dos portugueses (cerca de 1,65m para os homens) não se afastava da registada noutros países europeus.
Mas, a partir de meados daquele século as estaturas médias começaram a elevar-se em todos os países europeus, exceto em Portugal, onde no final do século XIX os portugueses eram as pessoas mais baixas da Europa – um processo que, segundo o Prof. Palma, se devia à subnutrição e a deficiências higieno-sanitárias, e que só começaria a ser revertido em pleno século XX, nomeadamente a partir dos anos 20 e, de forma mais acelerada, após 1960.
Verifica-se então uma melhoria muito significativa, nomeadamente no que respeita ao consumo cada vez mais generalizado de água canalizada (e devidamente desinfetada), aos esgotos e à qualidade das habitações, com reflexos notórios especialmente no decréscimo das doenças gastrointestinais e na mortalidade infantil.
No que à alimentação diz respeito, a partir do fim da II Grande Guerra (1945) regista-se um incremento notável no que concerne ao consumo dos alimentos ricos em proteína animal, nomeadamente pescado e, sobretudo, leite, carne (de porco, aves e vaca) e ovos. Na década de 1950 o contributo da produção animal para o PIB agrícola ultrapassou pela primeira vez o valor da produção de cereais e batatas.
Num estudo publicado em 2021 por Palma e Reis, que incluiu mais de 9000 observações de mancebos de 20 anos de idade e que abrange a Primeira República e vai até 1950, concluiu-se que os indivíduos mais baixos tendiam a ter níveis de educação inferiores, certamente por virem de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos.
A partir da segunda metade do século XX iniciou-se a produção animal em moldes avançados e eficientes, devido principalmente aos progressos alcançados no melhoramento animal, na nutrição e na profilaxia.
Consequentemente, o preço ao consumidor da carne, do leite e dos ovos baixou consideravelmente, tendo-se refletido num crescente consumo desses alimentos proteicos por habitante/ano – o que está associado ao aumento que se veio a verificar na estatura dos portugueses.
O Prof. Ezzati, do Imperial College London, num estudo recente revela que, entre 1914 e 2014, a estatura média dos homens portugueses aumentou 14 cm e a das mulheres 12,5 cm.
Segundo o mesmo autor, estas mudanças estão associadas a alterações nos hábitos alimentares e a fatores ambientais.
A terminar, refira-se que a Universidade do Porto verificou que os adultos portugueses nascidos na década de 1990 são mais altos que os progenitores – as mulheres cresceram mais 1,46 cm e os homens mais 3 cm do que os seus pais, o que se atribui designadamente a uma melhor alimentação, melhores cuidados de saúde e de condições higieno-sanitárias.
Engenheiro Agrónomo, Ph. D.
Do Prado ao Prato na perspetiva de um fruticultor português – Manuel Chaveiro Soares