É impossível assumir escolhas separadas das circunstâncias. Elas dependem do dia, do momento e da memória. O mais importante é o prazer da partilha, de comer, de beber vinho e de aprender com ele.
Como enólogo, acredito que é muito importante beber vinho em vez de o provar. Gostar ou não em vez de pensar. Reagir sem recorrer a um método, afastarmo-nos da técnica e colocarmo-nos no campo do prazer, da partilha, do que todos compreendemos.
Nasci dentro do Soalheiro, da vinha da minha família que depois se transformou em adega e marca, por isso gosto tanto do vinho. Ajudo desde que me lembro, decidi estudar – e continuo a aprender – enologia, gosto cada vez mais do vinho por ser enólogo. Dá-me muito prazer pensar nos caminhos que os vinhos percorreram até chegar ao copo que tenho à minha frente, nos caminhos que podem percorrer os próximos vinhos que façamos.
Tento não confundir as coisas. Quando bebo um vinho que me dá prazer, guardo partes desse momento para depois as revisitar em trabalho. Este é um exercício que faço nos dias seguintes, sem grande método, em qualquer lugar. Faço-o de forma natural e nem sempre o verbalizo, começo a distanciar-me do momento do prazer, de que nunca me esqueço, para olhar o vinho da perspectiva de quem faz.
Tento não responder às minhas perguntas rapidamente – este exercício é fonte de aprendizagem e inspiração. Não o vejo como o perguntar para encontrar resposta, mas como um questionar circular que vai destapar mais perguntas. Há ideias que passo para o papel, partilho com a equipa e depois logo se vê. […]