A Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA) apela para que o Governo português intervenha junto do executivo espanhol de forma a colmatar os problemas colocados por uma greve das transportadoras naquele país.
“Estamos confrontados com uma greve dos espanhóis, em que os ânimos estão muito exaltados, e essas paralisações estão a provocar receios dos transportadores de Portugal entrarem em Espanha, porque podem sofrer este tipo de retaliações. Os espanhóis não estão a querer, pela mesma razão, vir a Portugal e estão a pôr em causa os contratos e abastecimentos regulares ao nosso setor”, disse o secretário-geral da organização, Jaime Piçarra, à Lusa.
“Neste momento o que sofre mais impacto é a ‘pet food’ [comida de animais de estimação]. Estamos a falar de farinhas de carne, farinhas de aves e de gorduras”, explicou, sublinhando que já estão a ser postos em causa “abastecimentos de milho e de cevada, que as empresas foram arranjando para fazer face à ausência do milho da Ucrânia”, bem como de outros materiais.
“Já pedimos ao Governo português que junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros e dos ministros da Economia e Agricultura tomem a máxima atenção a estas questões e deixem circular pelo menos os camiões com bens essenciais para alimentação animal”, referiu.
“Percebemos estes ímpetos e reivindicações dos transportadores, quer em Espanha, quer em Portugal e por isso é que têm de ser tomadas medidas robustas a nível da União Europeia (UE) para conter estes aumentos de custos, para que o consumidor final os sinta o menos possível”, destacou.
Por isso, Jaime Piçarra enviou uma comunicação aos secretários de Estado da Agricultura e da Defesa do Consumidor “alertando-os para esta situação e para intervir junto dos congéneres espanhóis o mais depressa que seja possível”, acrescentado que o aprovisionamento “tem de funcionar de forma regular e previsível, que não ponha em causa o abastecimento de bens essenciais para a alimentação animal e humana”.
Num comunicado hoje divulgado, a IACA recordou que “devido à dependência que Portugal tem, por exemplo, do milho ucraniano e do trigo russo – 30% a 40% do milho consumido em Portugal para a produção de alimentação animal provém da Ucrânia, para além das sementes de colza e girassol – e dada a escassez destas matérias-primas, os preços dos cereais atingiram níveis recorde de mais 25% a 30% do que os preços praticados até ao último mês”.
A associação pediu ao executivo que dê prioridade “à soberania alimentar, ou seja, que inicie, desde já, a constituição de ‘stocks’ de segurança, o que implica apoios financeiros para aumentar a capacidade de armazenamento de portos e das fábricas”.
Além disso, indicou, deve ser privilegiada “a utilização dos cereais para a alimentação animal e humana em detrimento da sua utilização nos biocombustíveis que são feitos com matérias-primas, nomeadamente cereais, importadas” e devem ser concedidos “apoios diretos ao setor da alimentação animal”.
De acordo com a IACA, o Governo deve concretizar “rapidamente a flexibilização das importações de países que produzem determinado tipo de cereais geneticamente modificados e que ainda não estão autorizados na UE – mas devidamente aprovados nos países de origem – uma discussão teórica que ocorre há anos na UE, mas que, no atual momento, é desadequada” e não permitir “o protecionismo de países da UE, uma vez que Hungria e Bulgária já estão a bloquear as vendas ao exterior”.
Apelou ainda para que o executivo “solicite a Bruxelas, um apoio robusto e a fundo perdido aos produtores pecuários para que estes possam comprar alimentos para os seus animais” e que potencie “a produção agrícola de cereais, oleaginosas e proteaginosas” bem como “reduzir a dependência e criar condições para aumentar a capacidade de armazenagem das empresas”.