Dois terços do país em clima semi-árido, subida de 6ºC e chuva pela metade. Portugal é um “hotspot das alterações climáticas”. Este é o pior cenário, porém realista, para daqui a 80 anos.
No Instituto Dom Luiz e na Faculdade de Ciências, 30 investigadores da Universidade de Lisboa, munidos de supercomputadores, trabalham em consórcio com instituições de todo o mundo para responder a uma pergunta: como vai o clima mudar nas próximas oito décadas, até ao fim deste século, aqui em Portugal e pelo mundo fora?
As estimativas estão em estudos que já estão a ser publicados em revistas científicas internacionais, mas que vão ser reunidas no Roteiro Nacional para a Adaptação 2100, um projecto conduzido pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que está a avaliar a vulnerabilidade do país às alterações climáticas e calcular quanto custará a adaptação do sector económico ao impacto delas. E concluem que Portugal é um “hotspot das alterações climáticas” – um ponto do globo terrestre especialmente vulnerável aos piores dos cenários.
Pedro Matos Soares, o investigador do Instituto Dom Luiz que está à frente do projecto, e um dos cientistas portugueses mais envolvido no estudo das alterações climáticas, explicou ao PÚBLICO porquê: está na vizinhança da bacia do Mediterrâneo, uma região onde se está a registar um aquecimento climático muito significativo e níveis de precipitação cada vez mais reduzidos. E esse cenário está a piorar. O resultado? Um país cada vez mais seco, de pessoas menos produtivas por causa do calor, epicentro de fenómenos meteorológicos extremos, palco de cada vez mais incêndios (e mais intensos) e um pesadelo para quem tem risco acrescido de sofrer doenças cardiovasculares e cardio-respiratórias.
Segundo os dados consultados pelo PÚBLICO e contextualizados em entrevista com Pedro Matos Soares, dois terços do território continental português podem adquirir um clima semi-árido até ao fim do século XXI, com níveis de precipitação muito baixos (quase metade dos actuais), altas temperaturas e pouca humidade. Essa já é a realidade numa pequena porção do sudeste nacional, na região entre parte do sotavento algarvio e o distrito de Beja. Mas, dentro de 50 a 80 anos, esse pode ser o clima na esmagadora maioria da região sul do país até grande parte de Lisboa, […]