O Comissário da Agricultura afirmou, durante a inauguração das novas instalações da Coordenadora Europeia Via Campesina (ECVC), que “existe um mito na Europa e na opinião pública de que para a produtividade precisamos de explorações agrícolas industriais em grande escala. É absolutamente falso, as estatísticas demonstram que os grandes agricultores não são os líderes da produtividade, mas sim que os pequenos e médios agricultores usam uma pequena percentagem de terras agrícolas e produzem a maior parte da produção agrícola.”
A CNA, representada na cerimónia, em Bruxelas, pelo dirigente Vítor Rodrigues, membro do Comité Coordenador da ECVC, valoriza este reconhecimento e acrescenta que para que possamos contar com o papel determinante da Agricultura Familiar é necessário agora que a União Europeia e o Governo português alterem o caminho que têm seguido em termos de políticas agrícolas e de mercados.
A par das palavras de reconhecimento, é necessário adoptar outras e melhores políticas agro-rurais, nomeadamente no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC), para valorizar os pequenos e médios agricultores que estão a viver enormes dificuldades para manter as suas explorações agrícolas, face aos aumentos brutais dos custos de produção. As políticas adoptadas nas últimas décadas pela UE e por sucessivos Governos têm previlegiado a agricultura industrial orientada para a exportação e não só não resolveram as necessidades de segurança alimentar, como agravaram os défices agro-alimentares e comprometeram a Soberania Alimentar dos povos.
Leia o Comunicado da ECVC:
No dia 31 de Março, durante a inauguração das novas instalações da Coordenadora Europeia Via Campesina (ECVC), em Bruxelas, o Comissário da Agricultura Janusz Wojciechowski destacou “o papel que os pequenos e agricultores desempenham para garantir a segurança alimentar na Europa.”
Para a ECVC, organização da qual a CNA faz parte e que reúne pequeno/as e médio/as agricultores e trabalhadores agrícolas com 31 organizações membros em 21 países europeus, a inauguração dos novos escritórios em Bruxelas marcou um momento histórico importante no fortalecimento do movimento camponês europeu. Foi também uma oportunidade para compartilhar as suas posições sobre os objectivos, as ferramentas e a aplicação da soberania alimentar, a Estratégia “Do Prado ao Prato” e outros temas e questões agrícolas fundamentais, em particular no que diz respeito à guerra na Ucrânia e às implicações que terá para a Segurança e soberania alimentar de cada país e cada povo.
Durante a reunião com o Comissário e na cerimónia subsequente, a ECVC sublinhou a sua solidariedade para com o povo Ucraniano que sofre as consequências mais dramáticas desta guerra. Em particular, a ECVC destacou o papel daqueles que vivem e trabalham no meio rural, muitas vezes invisíveis. Os pequenos agricultores ucranianos resistem à guerra produzindo alimentos para a população do país.
A ECVC está empenhada em apoiar a agricultura camponesa e familiar na Ucrânia e, em particular, para preparar o futuro, a fim de permitir a reconstrução da agricultura camponesa e familiar neste país devastado o mais rápido possível.
O sistema neoliberal, a especulação financeira e a falta de soberania alimentar tornam os sistemas alimentares cada vez mais dependentes de importações e exportações. Nesse contexto, a guerra na Ucrânia está a mostrar a fragilidade de nossos sistemas alimentares e a desestabilizar ainda mais o sistema agro-alimentar em todo o mundo. Na Europa, os preços dos alimentos estão a subir rapidamente e alguns países do Médio Oriente, África e Sul da Ásia já começam a passar por crises devido aos preços muito elevados dos cereais nos mercados internacionais.
Nestas circunstâncias, a ECVC reafirmou que o papel dos agricultores é produzir alimentos saudáveis ??e acessíveis para as pessoas e neste momento de crise internacional as instituições devem concentrar-se na implementação de mecanismos e ferramentas que garantam esse papel no quadro das políticas agrícolas.
Na sua intervenção na cerimónia de inauguração, Morgan Ody, do Comité Coordenador da ECVC, sublinhou que “a Europa abandonou os pequenos agricultores. Dos 10 milhões de agricultores da União Europeia, a grande maioria não são agricultores com milhares de hectares, mas sim pequenos ou médios agricultores que praticam uma agricultura diversificada e territorializada. Mais de 70% das explorações agrícolas da UE têm menos de dez hectares e não têm acesso a ajudas da PAC porque são muito pequenas. Por outro lado, os nossos rendimentos dependem dos preços agrícolas a que vendemos a nossa produção. Não pedimos mais dinheiro público, mas sim regulação e protecção dos mercados agrícolas para obter preços que cubram os custos de produção e garantam uma remuneração decente para agricultores e trabalhadores rurais.
O próprio Comissário sublinhou também o papel que os pequenos agricultores devem desempenhar na garantir a segurança alimentar na Europa. “Existe um mito na Europa e na opinião pública de que para a produtividade, precisamos de explorações agrícolas industriais em grande escala. É absolutamente falso, as estatísticas demonstram que os grandes agricultores não são os líderes da produtividade, mas sim que os pequenos e médios agricultores usam uma pequena percentagem de terras agrícolas e produzem a maior parte da produção agrícola.”