A quarta sessão do “Ciclo de Conversas – Rumo à Neutralidade Carbónica 2030”, organizada pela CM Porto, teve como tema “Circularidade do Sistema Alimentar”. O evento decorreu no Porto Innovation Hub.
O“Ciclo de Conversas – Rumo à Neutralidade Carbónica 2030” é uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal do Porto, que conta com 10 sessões de esclarecimento e debate relacionadas com os temas da sustentabilidade, descarbonização e transição climática no contexto da neutralidade carbónica das cidades. A quarta sessão aconteceu na passada quinta-feira, dia 1 de junho, no Porto Innovation Hub, e teve como tema a “Circularidade do Sistema Alimentar”.
Luísa Magalhães, Diretora Executiva da Associação Smart Waste Portugal, foi a moderadora do evento, que contou com a presença de Duarte Torres, Subdiretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP); Pedro Rocha, Grower’s Network Weaver da Noocity; Pedro Lago, Diretor de sustentabilidade e economia circular da Sonae MC; e Luís Assunção, Administrador da Porto Ambiente.
Cada um dos oradores teve direito a uma intervenção, seguida de um espaço de debate e de esclarecimento com o público presente.
Na abertura da sessão, Luísa Magalhães começou por fazer um enquadramento da Smart Waste Portugal, uma associação criada em 2015 com o objetivo de criar uma rede de entidades que promove o resíduo como recurso através da investigação e desenvolvimento: “Uma das áreas em que trabalhamos é a do desperdício alimentar, para a qual temos um grupo de trabalho desde 2018. A ideia é tentar trabalhar o tema e obter a informação, mapear o setor, e encontrar soluções de circularidade“.
“Cerca de 1/3 dos alimentos produzidos anualmente a nível mundial são desperdiçados, o que corresponde a 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos desperdiçados. Na Europa, 30% dos alimentos comprados não são consumidos. E, além disso, o setor alimentar também produz 1/3 dos gases com efeito de estufa a nível mundial. Temos, por isso, um caminho muito longo a percorrer”, disse.
A sustentabilidade do sistema alimentar
Duarte Torres, Subdiretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, trouxe à discussão algumas das questões mais pertinentes relacionadas com a sustentabilidade do sistema alimentar. A sobrepopulação foi o primeiro fator apontado pelo responsável: “Uma das questões que causa uma pressão enorme nos sistemas agroalimentares é o aumento da população. Temos uma previsão de 9 mil milhões de humanos em 2050 e este é um aspeto central”.
Além do elevado número de pessoas no planeta, Duarte Torres apontou, ainda, o aumento do poder de compra como outro dos fatores que afeta o sistema agroalimentar. “O aumento do poder de compra leva a um aumento do consumo de alimentos e, consequentemente, a um aumento no consumo de alimentos de origem animal, que têm um maior impacto no sistema ambiental”, explicou.
De acordo com a abordagem das fronteiras planetárias desenvolvida por um grupo de cientistas sob a liderança de Johan Rockström do Stockholm Resilience Centre e Will Steffen do Australian National University, são definidas fronteiras seguras para a atividade humana dentro de 9 processos específicos para evitar mudanças ambientais perigosas. Essas fronteiras abrangem aspetos como as alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a acidificação dos oceanos, a utilização de água doce, entre outros que devem ser mantidos dentro de determinados valores para evitar impactos potencialmente irreversíveis ao nível do sistema terrestre que coloquem em causa a vida da espécie humana no Planeta. Neste âmbito, o subdiretor da FCNAUP abordou um estudo feito por um grupo de investigadores do Stockholm Resilience Centre, que aborda algumas das fronteiras planetárias que podem já ter sido ultrapassadas e outras que ainda poderão vir a ser, caso nada mude na forma de consumo.
“Para alguns domínios, como a disrupção dos ciclos geoquímicos e a perda de biodiversidade, provavelmente já extravasamos essa fronteira e não será possível voltar ao equilíbrio do sistema. A produção de alimentos impacta qualquer um destes domínios, nomeadamente os ciclos biogeoquímicos, no qual o sistema agroalimentar é o principal contribuidor para esta disrupção, que tem a ver com a utilização desregrada de fertilizantes, que são à base de fósforo e de azoto, ou seja, é uma utilização sem critério“, afirmou.
As soluções para este problema, segundo Duarte Torres, passam por três medidas, nomeadamente alterações da dieta, melhoramentos ao nível tecnológico e diminuição […]