A Confederação dos Agricultores de Portugal procurou parceiros em todos os governos, mas também encontrou obstáculos como Jaime Silva e Maria do Céu Antunes, defendeu o presidente Eduardo Oliveira e Sousa, lamentando a falta de conhecimento sobre o setor.
“Há uma ausência de técnica na abordagem dos assuntos, é a maior crítica que faço aos governantes dos últimos anos, que estão muito afastados da técnica. São políticos puros e duros, a maioria sem experiência de vida. Não têm preparação, conhecem mal o que é viver no campo e do campo. A teoria, a ilusão e o sonho leva-os, pelo poder que adquirem, a tomar atitudes que depois são desadequadas à vida das pessoas e ao progresso do próprio país”, apontou Eduardo Oliveira e Sousa, em entrevista à Lusa, quando se prepara para deixar a presidência da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).
Assegurando que a confederação não está vinculada a qualquer cor política, Eduardo Oliveira e Sousa disse que, em quase 50 anos, a CAP conseguiu encontrar consensos dentro dos vários governos, como Capoulas Santos (PS), Sevinate Pinto (independente) ou António Serrano (PS), mas “também encontrou grandes obstáculos, umas vezes mais pela política, outras pela incapacidade técnica”, nomeadamente com Jaime Silva (independente) e Maria do Céu Antunes, atual ministra da Agricultura e da Alimentação.
Para a CAP, a ministra Maria do Céu Antunes não tem capacidade para “colocar a agricultura onde ela já esteve”, o que tem levado a “resultados desastrosos” na execução do Plano de Desenvolvimento Rural (PDR), bem como no Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), ao qual, conforme referiu, os agricultores não conseguem candidatar-se.
“Os agricultores não recebem a tempo e horas, mas a senhora ministra diz: ‘estejam descansados, que vão receber’. Eu gostava que ela assinasse por baixo, com responsabilidade”, vincou, assegurando que a CAP tem vindo a atuar sempre em defesa do setor.
Eduardo Oliveira e Sousa lamentou a falta de “políticos com peso político”, mas também a falta de “capacidade interventiva” do atual parlamento, destacando, no sentido oposto, Paulo Portas (CDS), Rosado Fernandes (CDS), José Manuel Casqueiro (PSD), Patrícia Fonseca (CDS), Assunção Cristas (CDS), Cecília Meireles (CDS), Pedro do Carmo (PS) ou Nuno Serra (PSD), como vozes que “falam ou falaram da agricultura com substância”.
O líder da CAP criticou ainda a “demagogia” que existe à volta da agricultura, particularmente, a “facilidade em se darem opiniões” sobre o setor, quando “não se está com as mãos na massa”.
Por outro lado, destacou que a agricultura representa 20% das exportações do país, uma percentagem que disse estar acima do peso do calçado ou vestuário, ressalvando não ter nada contra estes setores.
“Somos o número um do mundo em vários produtos, à cabeça a cortiça. Estamos no ‘top’ três do azeite. Somos o único país do mundo com uma marca chamada vinho do Porto. O que é que nos falta?”, questionou, acrescentando que as frutas e legumes são apreciados até nos mercados ‘gourmet’.
Apesar de escusar-se a apontar alguém com peso e competência técnica para assumir a pasta da agricultura, tarefa que deixa para o primeiro-ministro, Eduardo Oliveira e Sousa reiterou que atual ministra não é a pessoa indicada para fazer um “reverso da situação”, mas notou que “nenhum governante é eterno” e que a agricultura continuará sempre.
Ainda assim, avisou que, a manter-se a mesma linha política, a agricultura, os agricultores e, consequentemente, o país vão sair muito prejudicados.
Um dos principais problemas, conforme apontou, é “um ministério feito em pedaços” e em permanente conflito, que impede um ambiente de paz e de progresso.
As divergências entre o setor e o Ministério da Agricultura levaram, recentemente, os agricultores a avançarem com uma ronda de protestos em vários pontos do país, que mobilizaram milhares de agricultores e trouxeram para as estradas centenas de tratores em marcha lenta.
Em Évora, os protestos escalaram, levando a confrontos entre os agricultores e a policia, após alguns manifestantes terem forçado as portas e tentado invadir a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDR Alentejo).
Este ano, associação que organiza a Ovibeja decidiu não convidar, formalmente, Maria do Céu Antunes, António Costa ou qualquer membro do Governo, perante o “descontentamento generalizado dos agricultores”, demonstrado nas manifestações.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como habitual, marcou presença no certame.