O projecto BRIGAID – “Bridges the Gap for Innovations in Disaster resilience” do programa Horizonte 2020 (http:// brigaid.eu), reúne 24 parceiros de 12 países com o objectivo de fornecer um suporte estrutural e contínuo para inovações relacionadas com mitigação dos desastres decorrentes das alterações climáticas (secas, cheias e eventos extremos como inundações e incêndios florestais).
Os parceiros portugueses são o Instituto Superior de Agronomia através da sua unidade de investigação “Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves (CEABNInBIO)” e a empresa Gestão Integrada e Fomento Florestal, Lda. (GIFF), ambos mais dedicados ao problema dos incêndios rurais e gestão do território. A abordagem do projecto BRIGAID tem por base três pontos-chave: a) Compreender a variabilidade geográfica dos riscos relacionados com o clima e a sua interacção com as alterações socioeconómicas; b) Estabelecer um suporte estrutural e contínuo a inovações em fase de validação (testes no terreno e demonstrações na vida real); c) Desenvolver uma estrutura que permita um julgamento independente e científico sobre a eficácia sócio tecnológica de uma inovação.
Desta forma, pretendeu-se promover uma abordagem inovadora que combinasse métodos de teste e de implementação, com ferramentas de mercado e de investimento, de modo a tornar-se um padrão a nível europeu para futuras inovações nesta temática.
Esta ponte (figura 1) que pretende fazer a ligação entre o protótipo de uma inovação e a sua chegada ao mercado tem como pilares os três produtos criados no âmbito do projecto que podem ser visionado no seu website:
1. Apoio na implementação e no teste da inovação, através de uma ferramenta que avalia a eficácia social e técnica em termos da sua capacidade de reduzir riscos em ambiente operacional (no terreno), e de outra ferramenta para avaliar o impacto de uma inovação em várias escalas geográficas e setores socioeconómicos e ambientais;
2. Apoio no desenvolvimento do plano de negócios, com recurso a uma plataforma que permite aumentar a capacidade dos inovadores de identificar as necessidades reais do mercado e fornecer uma estimativa do potencial de mercado para sua inovação (conselhos de aprovação / não aprovação);
3. Apoio para inserção no mercado e divulgação da sua inovação através da ligação a comunidades de inovação temáticas, capacitação em algumas técnicas de marketing, e inserção da inovação numa plataforma de interface entre inovadores e potenciais interessados (https://climateinnovationwindow.eu/). Nesta última plataforma (figura 2), criou-se a oportunidade de inovadores de toda a Europa partilharem as suas inovações relacionadas com a mitigação das alterações climáticas com foco nos diferentes riscos com possíveis financiadores e compradores. Utilizando os dados da Climate Innovation Window como caso de estudo, decidiu-se analisar que inovações europeias têm como foco a criação de paisagens mais resilientes aos incêndios florestais, estudo este que foi apresentado no seminário FIRESMART em Castelo Branco em Novembro de 2019.
As 119 inovações presentes na plataforma, foram categorizadas por tipo de risco e integração nas várias fases do ciclo integrado da gestão do risco (prevenção, preparação, resposta durante o evento e recuperação e adaptação pós-evento). Destas, somente 7 referem-se aos incêndios florestais. A grande maioria tem o seu foco no Multirrisco (36), Seca (29), Precipitação elevada (21) e Inundações de rios (20). Os incêndios florestais, as ondas de calor e as inundações costeiras, são menos representadas, com respectivamente 7, 4 e 2 inovações. São quatro as nacionalidades a trabalhar em inovações dedicadas aos incêndios florestais, entre as quais Portugal que promove três inovações, Albânia apresenta duas inovações, e Itália e Espanha apresentam uma inovação cada. Observando o seu nível de prontidão tecnológica (TRL de 1 a 9), constata-se que estes variam entre TRL 3 (prova experimental do conceito) e o TRL 7 (demonstração tecnológica em ambiente de operação). Distribuindo as diferentes inovações pelas quatro fases da Gestão Integrada do Fogo, verificamos que existem algumas que integram mais do que uma fase (figura 3).
A fase de preparação, a qual inclui vigilância e detecção dos incêndios tem quatro inovações, a maioria delas com o uso de drones e inteligência artificial. A fase de prevenção trabalha diretamente na redução da carga de combustível ou na utilização de tapetes para proteger o solo com fibras pouco inflamáveis. As inovações que incluem a redução da carga de combustível também têm como objetivo aumentar a eficácia do combate a incêndios bem como a segurança dos combatentes. Este é por exemplo a utilização de alguns drones os quais ajudam a extinguir os incêndios e fornecem em tempo real, informações actualizadas às equipes de extinção. A fase de recuperação e adaptação é a única que não recebeu até ao momento a atenção dos inovadores. As sessões em conjunto entre inovadores e utilizadores finais proporcionaram discussões ricas e oportunidades de aprendizagem mútua.
Estas abriram novos caminhos, por exemplo, integrando práticas com abordagens redesenhadas, como o uso de soluções baseadas na natureza, tais como o pastoreio, para criar paisagens FIRESMART, com o foco de prevenção, recuperação e adaptação. Estes resultados relativos às inovações que têm aparecido sobre a temática dos incêndios florestais nesta plataforma europeia, levantam algumas questões que deverão ser pensadas e discutidas. Por exemplo, os países da comunidade europeia que têm sido mais atingidos pelos incêndios florestais são os que apresentam as inovações sobre esta temática. No entanto, apesar de vários países nórdicos começarem a sentir os efeitos das secas, o que tem levado a grandes incêndios em locais onde não era habitual, ainda não estão presentes nesta plataforma inovações provenientes destes locais com vista a diminuir a vulnerabilidade destes aos incêndios. Face a estes recentes eventos, existe uma grande possibilidade que o contributo de inovações relacionadas com os incêndios possam começar a aparecer de países nórdicos, onde o risco de incêndio florestal começa a estar mais presente. Simultaneamente, estas novas regiões afectadas pelos ncêndios poderão constituir novos mercados para inovações que constam na plataforma ou de países com experiência mais longa nesta temática.
Este é um dos objectivos do projecto BRIGAID, apoiar inovadores dos diferentes países no desenvolvimento das suas inovações desde o protótipo até ao mercado, estimulando o conhecimento sobre as suas actuais e futuras vulnerabilidades a diferentes desastres decorrentes das alterações climáticas.
. Autoria:
→ Conceição Colaço1, Leónia Nunes, Susana Dias, Francisco Rego
1 – Centro de Ecologia Aplicada “Professor Baeta Neves”(CEABN-InBIO), Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349 – 017 Lisboa
* Escrito ao abrigo do anterior AO