Um fenómeno de consumo está a marcar a tendência nos últimos anos no mercado de vinho no Brasil. É cada vez maior a quantidade de brasileiros que estão a deixar de comprar vinhos no retalho e a optar por fazer compras de maior volume no comércio grossita. Uma série de fatores contribui para essa mudança de hábito.
A primeira delas é o surgimento de muitos grossitas, que não são mais do que lojas que misturam as características do comércio grossita com as do retalho, ou seja, os chamados ‘Cash & Carry’. Estes locais passaram a ganhar cada vez mais clientes no Brasil ao oferecer a possibilidade de pagar menos ao fazer compras em maior quantidade.
“Este tipo de planeamento não aconteceu porque as famílias decidiram ficar mais organizadas mas sim devido às necessidades trazidas pela crise económica”, diagnostica Olegário Araújo, diretor da agência brasileira Inteligência de Varejo. Por seu lado, a agência Nielsen revelou que os grossitas aumentaram as vendas 13,9% em valor e 12,8% em volume, no Brasil, no ano de 2018 sobre o anterior. Enquanto isso, os supermercados tiveram uma queda de 2,6% na faturação e de 2,7% em volume. Já o desempenho dos hipermercados foi ainda pior: uma retração de 5,9% em valor e de 6,4% em volume.
De acordo com a investigação realizada pelo Instituto Data Popular, em parceria com o Assaí Atacadista, 56% das pessoas ouvidas começaram a comprar no comércio grossitas por causa da crise económica brasileira (no inquérito foram ouvidos 10 mil consumidores). Segundo Silvia Sonneveld, sócia do BCG (The Boston Consulting Group), o sucesso dos Cash & Carry é justificado também pelo facto de as pessoas “perceberem qualidade na proposta”.
A chegada destes novos consumidores no universo das compras em quantidade abriu uma grande oportunidade para o vinho. Isso porque os fornecedores identificaram nesse ponto de venda uma oportunidade de educar o paladar do consumidor para experimentar novas possibilidades além da tradicional cerveja. “O Cash & Carry consolidou-se no processo de abastecimento do lar, ganhando relevância até em categorias que não eram o destino do formato”, explica o diretor do Painel de Lares da Nielsen Brasil, Ricardo Alvarenga.
Estudos desta consultora confirmam que os consumidores brasileiros procuram atualmente por canais com melhor custo-benefício, como o autosserviço e grossitas, especificamente para a compra de vinho. A categoria apresentou um ganho em volume de 13,7% nestes canais na comparação entre os meses de junho de 2017 a maio 2018 versus junho 2016 a maio 2017.
Consumo aumenta
Outro fator relacionado é o aumento exponencial do consumo de vinhos nos lares brasileiros. Nada menos que 500 mil moradas extras passaram a incluir o vinho nas suas compras no mesmo período de 12 meses, alcançando presença de 45% entre os domicílios (aumento de 1,2%).
Outro dado interessante é que os 15,4 milhões de lares que já consumiam vinho acrescentaram, em média, 200 ml a mais à sua taxa de compra. “Quanto à escolha de rótulos, apesar dos nacionais representarem mais de 50% da categoria, 61,4% do crescimento da categoria vem dos importados”, aponta relatório do Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho).
No mesmo sentido, Thiago Torelli, líder da indústria de Bebidas da Nielsen Brasil, afirma que “o mercado de vinhos segue uma tendência positiva de crescimento, recrutando novos domicílios. No último ano, cerca de seis milhões de lares passaram a comprar este produto e aqueles que se mantiveram (na casa dos 15 milhões) aumentaram o consumo com idas mais frequentes ao ponto de venda.”