Na procura por soluções inovadoras para promover a saúde do solo e das plantas, e reduzir a dependência do uso de fertilizantes, a The Navigator Company, a Universidade de Évora, a Altri e o Instituto Superior de Agronomia, com a coordenação da empresa Hubel Verde, juntaram-se no programa Bioma do Solo – Melhorar a relação solo-planta.
Sob a liderança de José Rafael, responsável pelo projeto na The Navigator Company, e o suporte académico de Isabel Brito, professora associada da Universidade de Évora, esta iniciativa multifacetada está a moldar o futuro da produção florestal em Portugal. O projeto Bioma do Solo tem sido uma jornada intensa e desafiadora, marcada pela colaboração entre especialistas de diversas áreas e pelo compromisso unificado com a preservação ambiental. A equipa envolvida nesta iniciativa, que integra a Agenda Transform, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, desenvolve o seu trabalho em três grandes áreas:
Controle de fungos fitopatogénicos (Phytophthora spp): A fitóftora, um fungo fitopatogénico, tem sido uma ameaça persistente às plantações de eucalipto em Portugal. É aqui que entra a primeira linha de defesa do Projeto Bioma do Solo: os fungos Trichodermas (T. Asperellum e T. Harzianum). Estes organismos benéficos são introduzidos no solo para combater os fungos patogénicos, tendo por objetivo reduzir a mortalidade das plantas e promover um crescimento mais saudável. “O eucalipto tem sofrido com ataques de fitóftora, um fungo fitopatogénico do solo, e é importante que haja mecanismos que possam proteger as plantas”, salienta Isabel Brito, professora associada da Universidade de Évora. Neste caso concreto, foram utilizados dois métodos para aplicação dos fungos Trichodermas: colocados no substrato de enraizamento e por mergulhia antes da plantação. Contudo, José Rafael explica que os resultados com os primeiros testes “não foram suficientemente claros no sentido de resolvermos para já o problema. Testámos estes fungos em plantas minimamente resistentes e houve uma ligeira melhoria, menor mortalidade; mas quando aplicados em plantas muito sensíveis à fitóftora não houve melhoria, mantendo-se a grande mortalidade”.
Melhoria da absorção de nutrientes: Nos solos mais pobres e com maior défice hídrico, há, consequentemente, menor disponibilidade de água e de nutrientes para as plantas. É por isso que o projeto investe em fungos micorrízicos, uma parceria simbiótica entre fungos e raízes das plantas, e que potencia o desenvolvimento destas. Esses microrganismos ajudam as plantas a acederem aos nutrientes essenciais, como o fósforo, aumentando a sua resistência e saúde geral. “No âmbito deste projeto foram utilizados/ introduzidos à plantação, com e sem aplicação de adubo convencional, fungos micorrízicos (Glomus iranicum) e microorganismos rizosféricos”, pormenoriza José Rafael. Isabel Brito acrescenta que “os fungos micorrízicos, para além de facilitarem a absorção de nutrientes e protegerem a planta contra stresses bióticos e abióticos, melhoram a estrutura do solo e criam um habitat favorável para o crescimento de outros micróbios, permitindo ainda a fixação de carbono no solo”. Neste caso, os resultados já obtidos são bastante promissores. Segundo José Rafael, “onde aplicámos o Glomus iranicum, numa região e solo com elevado défice hídrico, na zona de Pegões, e num período de elevada secura (fevereiro/março de 2023), obtivemos resultados surpreendentes. Tivemos plantas com um bom crescimento vegetativo, com crescimento homogéneo, muito regular, e não houve qualquer planta morta/seca, enquanto nas parcelas sem estes microorganismos houve cerca de 20% de plantas mortas (normal neste período extremamente seco)”. Estes resultados permitiram que se avançasse agora para testes numa escala semioperacional, que compreende uma área de 10 hectares distribuídos pelas regiões e solos de maior stresse hídrico (localizados no Centro-Interior, Vale do Tejo e Sul do País). “Depois desta fase de validação dos primeiros resultados obtidos, pretendemos passar para a escala operacional”, afiança José Rafael.
Promoção da saúde das plantas com biofertilizantes azotados: Os adubos químicos são uma parte importante do sucesso da produção florestal, mas o projeto Bioma do Solo está a explorar alternativas mais sustentáveis, concretamente a aplicação da bactéria Methylobacterium simbioticum spp. para redução da nutrição azotada do eucalipto.
O projeto tem ainda uma outra componente, que compreende o estudo de áreas ardidas. “Queremos perceber a influência do fogo no microbioma e na matéria orgânica do solo, e como é que a reflorestação com alguns destes produtos pode ser facilitada”, refere Isabel Brito. A mesma responsável salienta ainda que todos os produtos testados já existem no mercado e que a transferência do conhecimento obtido nestes ensaios será muito fácil, uma vez que duas grandes empresas da área florestal estão empenhadas na produção deste conhecimento. O projeto, no âmbito do PRR, tem um planeamento a três anos que, na ótica de Isabel Brito, “é tempo suficiente para percebemos o efeito destes produtos na instalação, mas para percebemos os seus resultados a longo prazo, é curto”.
Uma questão temporal que não preocupa José Rafael, da The Navigator Company, porque “há interesse em continuar estes ensaios e passar para a escala operacional em regiões mais secas, por forma a conseguirmos ter soluções que nos ajudem a contornar a seca e obter plantas mais resistentes e produtivas”.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.