As árvores monumentais são árvores imponentes, que contam muitos anos e são verdadeiros marcos da paisagem.
As relações que estabelecem com o meio, seja populações humanas ou outros seres vivos à sua volta.
As árvores centenárias são, por norma, gigantes monumentais que sobressaem na paisagem. Expandindo-se em anéis por cada um dos seus muitos anos de vida, são estruturas que se tornam indissociáveis dos territórios que ocupam.
O que distingue estas árvores, para além do tamanho? A sua “vida social”, chamemos-lhe assim: as relações que as populações humanas estabelecem com estas árvores, integrando-as na memória colectiva, mas também os micro-habitats que acolhem nos seus ramos, pequenos universos onde a vida é abundante.
Escolhemos visitar três destas árvores monumentais. Três Quercus — um sobreiro, um carvalho-cerquinho e um carvalho-alvarinho —, árvores autóctones que são também símbolo da resiliência do território às alterações climáticas. Acompanha-nos nesta volta o biólogo João Gonçalo Soutinho, fundador da Verde – Associação para a Conservação Integrada da Natureza e apaixonado por árvores, que nos vai mostrando os pormenores de cada uma das árvores que visitamos: a vida que brota delas e a vida que existe por causa delas.
Passámos também a chamar estas árvores de grande porte “gigantes verdes”, alcunha que João Soutinho criou com os orientadores do mestrado em Ecologia e Gestão Ambiental, a propósito de um projecto apoiado pela autarquia de Lousada (onde reside), para referir as árvores com um perímetro de mais de metro e meio à altura do peito, ou seja, tão grandes que uma pessoa adulta já não lhes consegue dar um abraço. São árvores grandes, descreve-nos, e “com muita vida, muito carbono, muitos serviços de ecossistemas e muita história”.
Duas destas são árvores protegidas através da classificação como árvore de interesse público — por todo o país, há pouco mais de 500 árvores ou conjuntos arbóreos reconhecidos como “monumentos vivos” —, outra está a fazer o seu caminho de avaliação pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Uma já foi eleita Árvore do Ano em Portugal — e até venceu o concurso europeu —, outra já teve várias candidaturas ao concurso organizado pela União da Floresta Mediterrânica (Unac). Todas, sem excepção, têm comunidades à sua volta que zelam para que ainda possam viver durante longos anos, acolhendo os seus valiosos micro-habitats.
Depois de olhar para estes seres, é impossível deixar de notar a vida que existe à volta das árvores do nosso dia-a-dia. Que tal ler este texto no jardim mais próximo de casa ou do seu trabalho?
Sobreiro Assobiador, Águas de Moura (Palmela)
Sobreiro (Quercus suber L.)
240 anos
Altura: 16,20m
Perímetro à altura do peito: 4,15m
Largura da copa: 29,30m
Se cada árvore compõe a própria melodia em seu redor, a canção do Sobreiro Monumental de Águas de Moura, em Marateca, concelho de Palmela, enche-se dos passarinhos que habitam a sua copa e do agitar das folhas afagadas pelo vento (além do trânsito da N5, ao fundo). É desta afinação natural, aliás, que lhe vem o nome de “assobiador”. Com a sua copa majestosa, de quase 30 metros de largura, a árvore surge isolada na relva, protegida por pilaretes; faz-lhe companhia um parque infantil construído mesmo ao lado, e um estacionamento onde a câmara municipal instalou um posto de carregamento rápido para carros eléctricos.
As placas que indicam o caminho mencionam o “Sobreiro Monumental”: um sobreiro de copa muito aberta — “quase uma cúpula”, descreve João Soutinho — em que os ramos quase tocam no chão. É a árvore mais jovem do nosso passeio. Estima-se que tenha sido plantada em 1783, sendo descortiçada mais de 20 vezes ao longo dos anos. Depois do último descortiçamento, em 1991, quando produziu 1200 quilos de cortiça, deixaram a sua casca em paz. É tão larga que são precisas quatro pessoas para dar um abraço sem a apertar.
Na linguagem das árvores, envelhecer significa acumular vida, dentro de si e à sua volta. O Sobreiro Assobiador é uma árvore visivelmente antiga — e, em princípio, quanto maior for a dimensão de uma árvore, mais micro-habitats tem. “Quanto maior for, mais velha é, por isso terá tido a oportunidade de passar por mais eventos que levaram a ter estruturas que suportem a biodiversidade”, explica o biólogo João Gonçalo Soutinho. Neste quesito, as árvores autóctones estão em vantagem, tendo em conta que são mais conhecidas dos animais que habitam os territórios, desde os insectos que exploram o seu tronco até aos pássaros que ali escolhem construir os seus ninhos.
Além disso, “são claramente arquivos daquilo que foi a história desta região”: cada um dos anéis do seu tronco “vai registando os níveis de carbono que existiam na atmosfera em cada momento”, explica o biólogo.
“O sobreiro é um ícone da floresta portuguesa”, nota Fernanda Pésinho, vereadora do ambiente da Câmara Municipal de Palmela, sublinhando a ligação da espécie ao território. “Por ser a espécie mais resistente ao fogo, tem maior capacidade de resiliência aos fenómenos das alterações climáticas”, elenca a vereadora. Além disso, “libertam oxigénio e são um sorvedouro de CO2, e têm um importante papel também na regularização do ciclo hidrológico”.
Fernanda Pésinho, que integra a equipa autárquica pel’Os Verdes, é também responsável pela vereação do urbanismo, mobilidade, eficiência energética ou resíduos urbanos do concelho de Palmela, que tem mais de 260 quilómetros quadrados de área, localizado “em pleno Parque Natural da Arrábida”.
No desenvolvimento do plano local de adaptação às alterações climáticas estão projectos, por exemplo, para a freguesia de Pinhal Novo, “muito populacional, muito urbana”, que está sujeita a fenómenos de ondas de calor e de seca meteorológica extrema. As árvores têm aqui um papel essencial: através do projecto “Pinhal Novo Verde”, a autarquia pretende plantar floresta autóctone em espaços essenciais, como o Mercado Municipal de Pinhal Novo, onde “não existem espaços de sombra”.
A vereadora conta que, para o futuro próximo, já está em andamento a criação de um centro interpretativo mesmo ao lado do Sobreiro Assobiador, que dê […]