A Câmara de Arcos de Valdevez quer transformar a branda de São Bento do Cando, situada a mais de mil metros de altitude, em estação científica, num investimento estimado em 4,5 milhões de euros.
Em declarações hoje à agência Lusa, o presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, no distrito de Viana do Castelo, João Manuel Esteves, estimou ainda este ano candidatar o projeto “produtor e promotor de ciência e conhecimento” aos fundos do Portugal 2030.
O autarca social-democrata apontou “o primeiro semestre de 2024 para o início dos trabalhos de transformação de seis edifícios da branda secular, na freguesia da Gavieira, em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), numa moderna estação científica”.
“Nos contactos que temos mantido quer com o Governo quer com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte(CCDR-N), tem-nos sido confirmado o interesse e apoio ao projeto”, destacou.
João Manuel Esteves explicou que as casas antigas da branda de São Bento do Cando, onde se cumpria a transumância (mudança sazonal dos agricultores e seus rebanhos para locais que oferecem melhores condições durante uma parte do ano) vão ser recuperadas e reconvertidas em alojamento para estudantes de doutoramento e investigadores, laboratórios, auditório, residência artística, entre outros espaços.
“Da transumância das pessoas, que durante séculos se adaptavam ao ritmo da vida, com esta estação de investigação e formação, queremos fazer transumância de conhecimento, deste local, mais de mil metros acima do nível do mar, para o mundo”, afirmou.
Além de “apoiar trabalhos de investigação interdisciplinar da biodiversidade e ecossistemas, das alterações climáticas, dos recursos naturais e culturais, naquela branda científica, os investigadores portugueses e estrangeiros poderão ficar alojados e realizar trabalhos de campo e de laboratório nos vários edifícios”.
A branda científica “terá ainda condições para ministrar cursos de doutoramento e mestrado”.
“Além de produzir conhecimento, a branda científica vai criar condições para atrair talento, desenvolver investigação e ajudar ao desenvolvimento económico e social das populações do PNPG”, realçou o autarca.
João Manuel Esteves destacou ainda a importância do projeto para a “recuperação de aldeias que se encontram, atualmente, praticamente desabitadas, entre outras razões, pelo abandono agrícola e declínio demográfico”.
“Atualmente, cerca de duas dezenas de pessoas ainda cumprirão a transumância na branda São Bento do Cando”, apontou.
Segundo o autarca, a futura estação de investigação e formação integrará o projeto europeu Biopolis que “tem como objetivo a criação de uma superestrutura de investigação em biologia ambiental, capaz de responder aos novos desafios que se colocam hoje em áreas de ponta como a genómica, a biologia computacional, a bioinformática ou a monitorização ambiental”.
O Biopolis é coordenado por um consórcio que junta o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, a Universidade de Montpellier, em França e a Porto Business School.
“É um projeto que desenvolverá ações não só para o PNPG, único em Portugal, mas também para a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés, assim declarada, em 2009, pela UNESCO, contribuindo para a coesão territorial e diversificação socioeconómica”, realçou.
A Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés está localizada na Galiza e no Alto Minho, unindo do lado português, o PNPG ao Parque Natural Baixa Limia – Serra do Xurés, no lado galego.
O protocolo para a criação da branda científica foi assinado em agosto de 2022, entre a Câmara de Arcos de Valdevez a Associação Biopolis (CIBIO-inbio, Universidade do Porto), o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território(IGOT) DE Lisboa, o Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, os Institutos Politécnicos de Bragança e Viana do Castelo, Instituto Superior de Agronomia, as Universidades de Lisboa, do Minho, em Braga, de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Santiago de Compostela e Vigo, na Galiza.