A aplicação “Eu vi um lobo” quer envolver a comunidade na recolha de informação sobre a espécie protegida, permitindo a todos os cidadãos partilhar anonimamente fotografias georreferenciadas do animal, indícios da sua presença e de potenciais ameaças.
Desenvolvida pela Plataforma Lobo Ibérico (loboibérico.pt), a aplicação para telemóveis desafia a sociedade a contribuir para a conservação da espécie em Portugal.
“A ideia é criar um laço maior entre os cidadãos e a conservação da natureza”, afirmou hoje à agência Lusa Bruno Arrojado, um dos promotores da plataforma.
A aplicação é gratuita e os contributos são anónimos. “Para nós o mais importante é o registo em si”, apontou.
Através desta ‘app’, os cidadãos podem enviar fotografias georreferenciadas de lobos, de indícios de presença desta espécie e também de potenciais ameaças.
Os dados serão disponibilizados, de forma anónima, às autoridades e aos investigadores, permitindo mapear a ocorrência da espécie e de possíveis ameaças, ajudando à conservação do lobo e do seu ecossistema.
A plataforma especificou que os dados partilhados serão úteis para mapear a ocorrência do lobo e das suas presas e, sempre que possível e relevante, para identificar e denunciar possíveis ameaças à espécie e ao seu ecossistema, como, por exemplo, a presença de laços ou de iscos/carcaças envenenados.
Bruno Arrojado salientou que a iniciativa “tem uma vertente que não toca só no lobo, mas em toda a natureza”.
Lançada há cerca de seis meses, a plataforma junta os biólogos Francisco Álvares, Lemuel Silva e Sílvia Ribeiro e o informático Bruno Arrojado, tem como missão reunir informação científica e juntar a informação que existe, mas está dispersa, sobre o lobo em Portugal.
Naquele sítio ‘online’ é possível, por exemplo, observar mapas da evolução do lobo-ibérico ao longo do século XX, das alcateias confirmadas e prováveis em Portugal entre 2002 e 2019 e até de fojos visitáveis, as antigas armadilhadas usadas para capturar este animal, e ainda se pode recolher informação sobre a sua alimentação ou ameaças.
“A ideia é criar um espaço de informação correta à volta do animal, sem mitos”, afirmou Bruno Arrojado.
Paralelamente, segundo o responsável, a plataforma apoia ações de conservação do lobo no terreno, doando parte dos lucros da venda de produtos da sua loja ‘online’ a projetos que promovem a coexistência como, por exemplo, os que apoiam os produtores pecuários a melhorar a proteção do gado.
A loja inclui artigos exclusivos e serviços alusivos ao lobo e ao seu ecossistema e produtos oriundos de regiões onde a espécie está presente, e dá prioridade a artistas nacionais e a produtores que adotem boas práticas de coexistência com o lobo.
De acordo com o último censo nacional, realizado em 2002/2003, estima-se que existam cerca de 300 lobos em Portugal, distribuídos por um total de 63 alcateias e ocupando uma área de aproximadamente 20.400 quilómetros quadrados.
Os resultados do censo nacional realizado recentemente, que foi coordenado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), ainda não são conhecidos.
A norte do rio Douro, o lobo encontra condições de sobrevivência mais favoráveis, com os principais redutos da espécie situados nas serras do Alto Minho e de Trás-os-Montes, em particular as abrangidas pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês e pelos parques naturais de Montesinho e do Alvão.