Almeirim tem sido uma das zonas do país com temperaturas mais altas – que duram há mais de uma semana e deverão continuar. Quem lá vive diz que a cidade sempre foi quente, mas que o calor “não durava tanto tempo”.
Joaquim Ventura e Emídio Catrola são amigos há décadas e já é costume encontrarem-se todos os dias num banco de jardim, à hora de almoço. Na quarta-feira, foi “o único dia em que não se podia estar aqui”, conta Emídio: o calor era tanto que teve de “fugir” para o fresco do interior da loja de seguros em que trabalha. Estamos no centro de Almeirim, em Santarém, uma das regiões do país que tem registado temperaturas mais elevadas nos últimos dias. Agora, os dois amigos de infância puderam retomar a tradição e aproveitam a sombra das árvores para se protegerem dos mais de 40 graus que se fazem sentir na cidade ribatejana, mesmo com o sol escondido por entre as nuvens. Calor sempre houve e “Almeirim sempre foi quente”, diz Emídio, mas a diferença é que “não durava tanto tempo”.
As temperaturas elevadas duram há mais de uma semana e, até domingo, não se prevê que as máximas fiquem abaixo dos 38 graus Celsius em Almeirim. Além do calor, o fumo dos incêndios e a falta de vento fazem com que pareça estar mais abafado. Foi o que aconteceu na quarta-feira, quando um fogo nas proximidades tornou o ar ainda mais pesado. “O fumo entrou aqui de manhã, tornava-se abafado e cheirava a queimado”, descreve Joaquim Ventura, de 63 anos, sentado num banco vermelho no Jardim da República, no centro da cidade. Mora a cerca de cinco quilómetros dali e diz que, por causa do fumo, nem conseguia ver o seu vizinho a 50 metros de distância.
O calor não é de agora, diz. “No nosso tempo não havia ar condicionado, não havia carrinhas com ar condicionado, tínhamos de andar no campo e fazia estes calores à mesma”, conta Joaquim Ventura, que trabalha como motorista numa escola. “O calor nós aguentamos”, comenta, mas “as pessoas têm de se mentalizar que isto sempre foi assim e que vai continuar a ser”. Em resumo, temos que nos adaptar. E dá o exemplo: à sombra das árvores, “está-se maravilhosamente bem, nem se sabe que está calor”. No jardim, o calor não demove os pássaros de chilrear.
Quase toda a gente que está na rua em Almeirim está a caminho de algum sítio: do trabalho, de casa, do almoço, ou das tarefas que não podem ficar por fazer apesar do calor, como ir ao supermercado. Há quem se sente nos bancos de jardim, à sombra, e quem se abrigue do calor dentro dos cafés e restaurantes. Nas ruas, está pouca gente […]