Milhares de agricultores alemães prometeram hoje manter os tratores nas ruas e continuar a bloquear o centro de Berlim até que o Governo anule a reforma fiscal planeada para o setor.
“Quanto mais cedo o Governo alemão encontrar uma solução para anular os seus planos de aumento de impostos, mais cedo os agricultores sairão das ruas”, afirmou o presidente da Federação Alemã de Agricultores, Joachim Rukwied.
Após uma semana de protestos, o setor agrícola quer manter a pressão sobre a coligação governamental liderada pelo chanceler Olaf Scholz, num contexto de crescente descontentamento entre a população alemã.
Em frente às Portas de Brandemburgo, um dos principais símbolos da capital alemã, milhares de agricultores vaiaram o ministro das Finanças, Christian Lindner, enquanto este discursava no local, acusando-o de “mentiroso” e exortando-o a “sair”.
“Este Governo deve demitir-se”, disse Paul Brzezinski, 73 anos, um produtor de leite do sudeste de Berlim, citado pela agência France-Presse (AFP).
O anúncio em dezembro de uma redução nas subvenções depois de uma solicitação de juízes constitucionais relativamente às rigorosas regras orçamentais é uma das principais causas do movimento de contestação.
Perante os protestos, a coligação governamental, que integra sociais-democratas, verdes e liberais, recuou no início do ano, ao manter um benefício fiscal sobre veículos para silvicultura e agricultura e decidir eliminar de forma gradual os benefícios sobre o gasóleo agrícola para permitir a adaptação das empresas, como justificou o ministro das Finanças.
Os agricultores avaliaram como insuficientes as concessões feitas pelo Governo.
Segundo a polícia local, “muito mais de 5.000 tratores” bloquearam as ruas da capital e buzinaram, tendo alguns manifestantes sido detidos depois de lançarem petardos.
Representantes dos agricultores e líderes dos grupos parlamentares dos partidos no poder reuniram-se hoje, mas não houve avanços concretos.
A mobilização dos agricultores faz aumentar a pressão sobre o Governo alemão, cuja taxa de aprovação é a mais baixa de sempre, enquanto a extrema-direita, em ascensão, especialmente no leste do país, procura tirar partido destes protestos.
Numa sondagem recentemente publicada pelo diário Bild, 64% dos alemães manifestaram-se a favor de uma mudança de executivo.
Diferentes setores, desde a metalurgia à educação e aos transportes, realizaram protestos nas últimas semanas, num contexto de crescimento lento e aumento de preços. O Produto Interno Bruto (PIB) alemão contraiu 0,3% no ano passado, segundo dados divulgados na segunda-feira.
Os trabalhadores ferroviários paralisaram, na semana passada, enquanto, em dezembro, os metalúrgicos e os trabalhadores do setor público decretaram greves para exigir aumentos salariais.