A Associação das Indústrias de Panificação e Pastelarias de Angola (AIPPA) negou hoje que exista escassez de trigo no mercado angolano, apontando problemas na distribuição e especulação do preço do pão, originada pelo aumento dos custos de produção.
“Não há escassez de trigo, o que há é especulação de preços. O que acontece é que o nosso Governo gasta muito dinheiro para importar o trigo para ser transformado em farinha e satisfazer o mercado interno, mas infelizmente esta farinha está a ser exportada”, afirmou hoje o presidente da AIPPA, Gilberto Simão, em entrevista à Lusa.
De acordo com o responsável, operam em Angola mais de dez moageiras na produção da farinha, recorrendo a trigo importado, com elevados gastos do Estado angolano, mas a problemática da farinha de trigo no país reside na distribuição do produto.
“Se não há problema na importação, o Governo gasta milhares para importar trigo, se não há problema na produção, temos mais de dez moageiras no país, e se não há problemas de produção de farinha de trigo, (então) o problema está na distribuição”, apontou.
“Quem é que faz chegar os camiões de farinha de trigo à fronteira do Zaire?”, questionou Gilberto Simão, recordando, por outro lado, que neste momento a estrutura de custos na produção do pão “aumentou para todos”.
O ministro da Indústria e Comércio, Rui Miguêns de Oliveira, afirmou na semana passada que o governo está a criar condições para se evitar a escassez da farinha de trigo e, consequentemente, a especulação do preço do pão no mercado nacional.
O presidente da AIPPA questionou também as motivações do Governo em travar o aumento do preço do pão no seio da indústria panificadora, ante a subida dos custos, referindo que os governos provinciais não permitem aumentar o pão em mais de 30 kwanzas (0,03 euro).
A proposta apresentada pela AIPAA, aprovada pelas autoridades, compreendia um pão de 80 gramas ao preço de 30 kwanzas, lembra o empresário, lamentando o atual aumento da estrutura de custos.
“Agora a estrutura de custos para fazer pão aumentou: a água, a luz, a farinha de trigo aumenta todos os dias, tudo aumenta e não nos deixam aumentar o preço do pão”, aafirmou.
Defendeu ainda a necessidade de o Governo apostar na produção nacional, para a substituição imediata de 20% da farinha de trigo que se consome a nível interno, e a suspensão da reexportação da farinha de trigo.
Gilberto Simão entende que “deve ser proibida a exportação da farinha de trigo” e criar-se uma comissão para averiguar e fiscalizar a distribuição deste produto.
“Porque se o Governo gasta dinheiro para satisfazer o mercado interno não é para exportar (…). Todos os dias passam camiões de trigo na fronteira do Zaire (província angolana que faz fronteira com a República Democrática do Congo)”, rematou.