No ano passado a produção de cereais já tinha batido no fundo, como a menor produção dos últimos 100 anos – 121 mil hectares, contra 900 mil hectares no final dos anos 80 do século passado, de acordo com o INE. A produção diminuiu de 1,65 milhões de toneladas para 1,1 milhões no mesmo período.
E quando se pensava que já não podia piorar eis que as estimativas deste ano caem ainda mais, tanto em área cultivada como em quantidades produzidas, segundo as últimas estimativas dos agricultores. Uma quebra de 20% na campanha de 2018/19.
Ainda assim, a Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC) apresenta esta sexta-feira publicamente na Herdade da Torre do Frade em Santo Aleixo, concelho de Monforte, a marca ‘Cereais do Alentejo’.
Trata-se de uma marca de cereais não processados e 100% nacionais, produzidos no Alentejo. Apesar de já ter sido anunciada há alguns meses “só em abril é que a marca ficou registada e é por isso que agora a apresentamos publicamente, na tentativa de puxar o sector para cima”, explicou ao Expresso José Palha, presidente da ANPOC.
Este responsável adiantou ainda que foi criado um acordo tripartido que envolve perto de 100 produtores, alguns industriais das moagens e duas grandes empresas de distribuição: o grupo Auchan e a Sonae. Para além de envolver ainda as Padarias Gleba, o grupo Nabeiro e as massas Nacional.
Na prática todas estas entidades passarão a fazer pão com trigo exclusivamente alentejano. “Sabemos que nunca seremos competitivos em quantidade, mas sê-lo-emos seguramente em qualidade”, disse ainda o presidente da ANPOC.
Portugal é historicamente um país dependente do exterior para se alimentar de pão e derivados de cereais. Apenas nos anos sessenta do século passado conseguiu abastecer metade das suas necessidades. Daí para cá foi sempre a cair. A área semeada de cereais está a cair há seis anos consecutivos, segundo o INE. Representa apenas 1/8 da observada em 1986 (ano da adesão de Portugal à então CEE – Comunidade Económica Europeia) e é a mais baixa desde 1918.