As quedas nos preços globais de azeite levaram alguns agricultores espanhóis a cortar oliveiras centenárias, que são encaminhadas para lenha ou vendidas como ornamentos de jardim. Alguns produtores da indústria de azeite espanhola estão a virar-se para árvores mais novas e mais produtivas de forma a tentar diminuir os custos, avança o The Guardian.
“É uma pena estas oliveiras centenárias”, disse recentemente à emissora RTVE , o proprietário de uma quinta de 40 hectares perto de Sevilha, Juan Antonio Galindo. “Mas tenho de os cortar para mudar para a agricultura intensiva… a diferença é enorme”, acrescentou. Ele estimou que a mudança reduziria os seus custos de produção em mais de 70%.
O líder da associação espanhola de exportadores de azeite, Rafael Pico, em declarações ao The Guardian, afirmou que cerca de 70% dos produtores espanhóis de azeite eram operações de pequena escala que muitas vezes dependiam dos métodos agrícolas tradicionais.
“Inevitavelmente – e é a minha opinião – haverá uma reestruturação destes olivais para uma agricultura intensiva e superintensiva”, disse, apontando para o crescimento da produção intensiva de azeite na Austrália e nos Estados Unidos da América (EUA). “Se não, podem acabar por ficar fora do mercado”, acrescentou o responsável.
Embora houvesse olivicultores a mudar para a produção intensiva, estes casos estão longe da norma, disse Cristóbal Cano, da Unión de Pequeños Agricultores y Ganaderos, que representa cerca de 80.000 pequenos agricultores no país. “Não é a maioria que está a arrancar oliveiras centenárias para a agricultura intensiva”, afirmou ao The Guardian.
Legislação
Alguns produtores procuraram utilizar o facto de serem centenárias para marcar a diferença. Estes esforços foram impulsionados por proteções jurídicas como, por exemplo, na Catalunha. Os legisladores da região votaram no ano passado para reforçar as proteções para as oliveiras mais antigas da região, ecoando legislação semelhante introduzida em Valência em 2006.
“Mudar da agricultura tradicional para a agricultura super-intensiva não é a única forma de alcançar a rentabilidade”, disse Cano, defendendo que os fatores sociais e ambientais também devem ser considerados.
“Esta tripla sustentabilidade é o que é preciso alcançar”, afirmou o responsável da Unión de Pequeños Agricultores y Ganaderos. “Penso que os olivicultores estão cada vez mais conscientes de que o nosso futuro reside na diferenciação dos nossos azeites e na transmissão aos consumidores dos impactos sociais e ambientais que estão em jogo por detrás de cada litro de azeite”, acrescentou.
Nos últimos anos, o setor em Espanha tem sido alvo de vários problemas, como a queda nos preços globais de azeite e a tarifa punitiva de 25% cobrada pelos EUA sobre o azeite espanhol. Apesar disso, a indústria tem recuperado lentamente, embora não alcance os níveis de 2018. A competição global deverá intensificar depois da suspensão temporária das tarifas existentes nos EUA.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.