A Agência Europeia do Ambiente (AEA) apelou hoje à redução do consumo de pesticidas, ainda amplamente vendidos na Europa, apesar de poluírem a água, o solo e o ar, minando a biodiversidade e promovendo o desenvolvimento de doenças.
“Na Europa dos 27, as vendas de pesticidas mantiveram-se relativamente estáveis, na ordem das 350 mil toneladas por ano, entre 2011 e 2020”, refere a agência da União Europeia, com base nos números do Eurostat.
Segundo a agência, as vendas baixaram apenas em 11 estados-membros, com as quedas mais acentuadas observadas em Portugal, República Checa, e Dinamarca.
Em 2020, foram detetados um ou mais pesticidas acima dos “limites preocupantes” em 22% dos locais de monitorização de rios e lagos na Europa, indica a AEA.
O inseticida neonicotinóide imidacloprida e o herbicida metolacloro registaram o maior número absoluto de excedências em toda a Europa, principalmente no norte da Itália e no nordeste da Espanha.
Nas águas subterrâneas, a atrazina, um herbicida banido desde 2007, é responsável pelo maior número de casos de limites ultrapassados.
Para os seres humanos, a exposição a pesticidas químicos, principalmente através dos alimentos, mas também do ar, em regiões de agricultura intensiva, está ligada ao desenvolvimento de doenças cardíacas, respiratórias e neurológicas, bem como de cancros, sublinha o relatório.
“É preocupante constatar que todos os pesticidas controlados (…) foram detetados em concentrações mais elevadas nas crianças do que nos adultos”, sublinha a AEA.
Em um estudo realizado principalmente na Espanha, Letónia, Hungria, República Checa e Holanda entre 2014 e 2021, pelo menos dois pesticidas estavam presentes no organismo de 84% dos participantes.
A poluição por pesticidas leva à perda de biodiversidade em todo a Europa e está a provocar um declínio significativo nas populações de insetos, ameaçando seu papel essencial na produção de alimentos.
As maiores taxas de crescimento verificaram-se na Letónia e na Áustria. Em volume, os maiores aumentos foram registados na Alemanha e em França.
Estes dois países, juntamente com Espanha e Itália, são os que vendem maiores quantidades para a maioria dos grupos de substâncias ativas e são os maiores produtores agrícolas da UE, setor que defende que o uso de pesticidas é necessário para o rendimento das culturas.
De acordo com a AEA, 83% dos solos agrícolas testados num estudo de 2019 continham resíduos de pesticidas.
Para a agência europeia, os 27 devem reduzir a dependência de agrotóxicos, adotando outros modelos de agricultura, como a agroecologia.
Um relatório da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) publicado hoje mostra que, em 2021, 96% dos alimentos analisados não ultrapassaram os limites autorizados para resíduos de pesticidas.
A toranja, uma fruta principalmente importada, foi o alimento mais afetado pelos excessos e, por isso, foram introduzidos novos controlos deste produto, informou a EFSA.