Apesar de as chuvas de março terem tirado Portugal da seca extrema, agricultores e especialistas avisam: se não chover em abril e a seca se intensificar, pode mesmo ser necessário fechar a torneira no verão. Restrições nas barragens vão manter-se e não há previsão para serem levantadas, diz ao Expresso a Agência Portuguesa do Ambiente e o Governo. “Situação limite” nesta altura do ano será cada vez mais frequente no futuro
O solo português já não tem tanta sede. Os últimos dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), referentes a abril, mostram que o índice de água no solo subiu substancialmente nas últimas semanas, sobretudo na região sul: a água que choveu em março — o sexto mês mais chuvoso desde 2000 — praticamente acabou com a seca no solo e nas plantas, dando assim uma ajuda preciosa às atividades agrícolas.
As chuvas acabaram com a seca extrema, que em fevereiro assolava mais de 60% do território nacional. No entanto, 81,7% do país continuava em seca moderada no final de março. E como a água ficou quase toda no solo, os níveis de água nas barragens não recuperaram muito. “No último dia do mês de março, e comparativamente ao último dia do mês anterior, verificou-se um aumento do volume armazenado em seis bacias hidrográficas e uma descida [noutras seis]”, explica o IPMA. Excepto na albufeira da Aguieira (no rio Mondego), os atuais armazenamentos de água nas 60 albufeiras analisadas são inferiores à média do mês de março dos últimos 30 anos.
No início de fevereiro, o Governo ativou medidas de contingência para condicionar a produção de energia em várias albufeiras do território nacional: Cabril, Castelo de Bode, Alto Lindoso, Alto Rabagão, Vilar Tabuaço, e posteriormente Guilhofrei. Antes, as albufeiras de Aguieira e Fronhas, juntamente com a albufeira da Raiva, já tinham sido condicionadas.
“Consequentemente, estas medidas mantêm-se” em vigor, diz a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ao Expresso. Não está previsto um levantamento das restrições nas próximas semanas: “Não sabemos quando isso vai acontecer, depende do quanto chover”, aponta fonte oficial do Ministério do Ambiente.
“Março correu bem, mas continuamos à espera que o mês de abril seja chuvoso para as barragens recuperarem os seus níveis. Se for um mês seco, voltamos ao ponto de partida”, explica Afonso do Ó, especialista em questões de água e seca e consultor da Comissão Europeia.
Ou seja: “Abril precisa de cumprir”, resume Valter Luz, agricultor e detentor de um olival em Alcoutim. Um março chuvoso e um abril seco vai prejudicar a sua produção: a vegetação até pode crescer durante uma semana e meia, mas a pastagem rapidamente se tornará inviável se não continuar a receber chuva. “Se a seca se mantiver como está [moderada], […]