O censo total de linces na península Ibérica alcançou os 2 021 indivíduos, com 1 299 adultos ou subadultos e 722 crias nascidas em 2023.
Depois de superar os 1 000 exemplares em 2020, em apenas três anos conseguiu-se duplicar a população ibérica.
A expansão territorial do lince continuou em 2023, alcançando um total de 14 núcleos com reprodução confirmada e novas áreas de presença estável na Região de Murcia e nas províncias de Albacete, Badajoz, Toledo e Ciudad Real, em Espanha, e na província do Algarve, em Portugal.
A reprodução em cativeiro permitiu a libertação de 372 linces nascidos em cativeiro desde 2011 até 2023, em áreas de reintrodução aprovadas pelo Grupo de Trabalho, que se espera se ampliem em Espanha para novas comunidades autónomas como Aragão, Castilla e León e Madrid e uma nova área em Portugal, ainda em avaliação.
O Ministério para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico de Espanha gere dois dos três centros de reprodução em cativeiro existentes em Espanha, a Junta de Andaluzia gere o terceiro centro e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas do Ministério do Ambiente e Energia de Portugal, gere o quarto centro de reprodução exclusiva de linces, existentes na península Ibérica – CNRLI – situado em Silves, no Algarve.
Os trabalhos do censo de lince-ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e em Portugal desenvolvidos durante 2023 evidenciaram que a espécie superou a barreira dos 2 000 exemplares, constituindo um novo número máximo desde que se realiza um seguimento pormenorizado e articulado das suas populações. Os resultados constam do relatório elaborado pelo Grupo de Trabalho do Lince- Ibérico, que coordena este tema no âmbito do Ministério para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico (MITECO) e é composto por representantes das comunidades autónomas Espanholas e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) de Portugal.
O relatório documenta que são 2 021 o total de linces recenseados, distribuídos em Espanha (1 730, que representa 85,6%) e em Portugal (291). As comunidades autónomas espanholas que albergam populações estáveis da espécie são quatro. Andaluzia acolhe 755 exemplares, o que representa 43,6% da população espanhola, enquanto em Castilla-La Mancha registaram-se 715 linces (41,3%). Na Extremadura recensearam-se 253 exemplares e na Região de Múrcia sete.
Do total recenseado, 1 299 linces são adultos ou subadultos, que apresentam uma distribuição de sexos de 1,01 a favor das fêmeas (602 machos e 611 fêmeas cujo sexo pôde ser identificado). O número de fêmeas reprodutoras ou territoriais em 2023 ascende a 406, que são mais 80 do que em 2022, e que se aproximam paulatinamente das 750 fêmeas reprodutoras que se considera preliminarmente como um dos objetivos demográficos a alcançar para considerar que o lince se encontrará num estado de conservação favorável. O número de crias nascidas em 2023 também aumentou até aos 722, com uma taxa de fecundidade de 1,77 calculada como o número de crias nascidas entre o número de fêmeas territoriais.
A população de lince continua em expansão, tanto numérica como territorialmente. Já são 14 as áreas geográficas distintas onde a espécie se reproduz. A tendência da população é positiva e assim prossegue desde 2015, o que permite mantermo-nos otimistas devido à diminuição do risco de extinção do lince- ibérico que daí decorre. Num período aproximado de 20 anos, a população passou de menos de 100 exemplares contabilizados em 2002 a mais de 2 000 em 2023. E nos últimos anos o incremento é ainda mais evidente, dado que em 2020 a população total era de 1 111 linces e apenas três anos decorridos adicionaram-se quase 900 indivíduos à população ibérica.
O relatório técnico elaborado no contexto do Grupo de Trabalho do Lince-Ibérico em Espanha e em Portugal, constituído pelas administrações ambientais competentes pode ser consultado no website do ICNF.
UM PROGRAMA COORDENADO QUE PRODUZ BONS RESULTADOS
A recuperação da população de lince-ibérico em Espanha e em Portugal constitui um dos melhores exemplos de ações de conservação de espécies ameaçadas no mundo e foi possível graças aos esforços coordenados realizados tanto pelas administrações públicas competentes como por entidades setoriais interessadas, proprietários e gestores de herdades privadas e pela sociedade em geral. A contribuição financeira das administrações espanholas e portuguesas e da União Europeia, através do programa LIFE, constituíram condições chave para a execução dos trabalhos de seguimento e investigação e para a melhoria das taxas de sobrevivência, reprodução e reabilitação do habitat.
O programa de conservação ex situ, em cujo âmbito se enquadram os trabalhos de reprodução em cativeiro e a reintrodução de exemplares, também foi uma peça chave para a recuperação do lince. Foram levadas a cabo, sob uma frutífera cooperação e coordenação entre as autoridades portuguesas e espanholas, articulada pelo marco do Memorando de Entendimento para o desenvolvimento de um único programa coordenado de atuações para a aplicação da Estratégia de Conservação do Lince-ibérico em Espanha. A reprodução em cativeiro implica um esforço económico muito importante para as administrações que tem suportado estes custos com meios próprios, e que são o ICNF de Portugal no Centro de Reprodução de Silves (CNRLI), a Junta de Andaluzia no Centro de La Olivilla (Jaén) e o Organismo Autónomo Parques Nacionais do MITECO nos Centros de Zarza de Granadilla (Cáceres) e El Acebuche (Huelva).
Desde que em 2011 começaram em Espanha, e em 2015 em Portugal, as primeiras libertações no meio natural de indivíduos nascidos em cativeiro, até 2023 foram reintroduzidos 372 exemplares. Às áreas de reintrodução inicialmente selecionadas para a libertação de linces, que foram Vale do Guadiana em Portugal, Guarrizas e Guadalmellato na Andaluzia, Montes de Toledo e Sierra Morena Oriental em Castilla- La Mancha, e Matachel na Extremadura, foram incorporadas as mais recentes novas zonas de reintrodução aprovadas pelo grupo de trabalho do lince-ibérico ao verificar-se o cumprimento dos requisitos ecológicos e sociais para abordar a reintrodução. Assim, os núcleos de Sierra Arana na Andaluzia, Valdecañas-Ibores e Ortiga na Extremadura, Tierras Altas de Lorca na Região de Murcia e Campos de Hellín em Castilla-La Mancha já contam com exemplares libertados e estabilizados de lince-ibérico. Outras zonas de conexão também acolhem linces de maneira estável, seja através de libertações de exemplares nascidos em cativeiro seja através de fixação natural de exemplares silvestres, nas províncias de Sevilha, Toledo ou no Parque Nacional de Cabañeros.
Resulta, pois, expectável que o número de áreas selecionadas para efetuar a reintrodução aumente nos próximos meses e anos, devido ao interesse de várias comunidades autónomas para avaliar a adequabilidade da recuperação do lince nos seus territórios. Estas avaliações estão sendo ultimadas para o caso de várias áreas com condições muito favoráveis para o lince em Aragão, Castilla e León e Madrid, embora se encontrem ainda a aguardar pela sua apresentação e aceitação consensualizada perante o grupo de trabalho do lince-ibérico em Espanha e em Portugal.
Fonte: ICNF