Adoptaram-se medidas de protecção dos colaboradores e encontraram-se soluções para logísticas mais difíceis. Uma atitude que é aliás habitual no setor: construtiva, flexível, ágil para se adaptar às exigências da qualidade e da ética.
No contexto difícil da presente pandemia, o sector olivicultor português continuou a investir, não tendo sido interrompidas as novas plantações, reforçando assim a sua capacidade como exportador líquido de azeite.
Portugal é apontado como exemplo no mundo por se ter sabido reinventar com rigor e inovação e por ter percorrido o caminho iniciado neste século de contribuir para o sólido aumento de produção e divulgação de produtos agrícolas de qualidade dentro e fora do país.
No início do século XX tínhamos no Alentejo uma mancha de cerca de 40 mil hectares de olival e, em todo o Portugal, produziam-se 30 mil toneladas de azeite. Hoje, acrescentaram-se mais 15 mil hectares de olival ao Alentejo, e Portugal já produz anualmente cerca de 5 vezes essa quantidade de azeite — somos mais eficientes, criámos milhares de empregos diretos e indiretos, os montes alentejanos deixaram de estar abandonados, e, sobretudo, aproveitaram-se valências, reteve-se talento e atraíram-se para o interior jovens com competências técnicas e tecnológicas.
A natureza agradece o uso sustentável dos recursos, a redução dos produtos químicos, a utilização cuidadosa da água, o total aproveitamento de todo o processo… e isso traduz-se num regresso da fauna autóctone e em resultados repetidamente positivos da sanidade dos solos.
Somos hoje, provavelmente, o país do mundo com a mais alta percentagem de produção de azeite de primeira categoria.
A história repete-se – desde o Império Romano que o azeite da Lusitânia era o mais caro e servia sobretudo para delícia das elites de Roma – o restante servia para todas as outras aplicações: iluminação, desporto, guerra etc. Hoje, os principais embaladores italianos fazem verdadeiras esperas à porta dos lagares nacionais para adquirir o néctar produzido pelos nossos modernos olivais.
No desaire económico que assolou a maior parte das economias em resultado da pandemia covid-19, em Portugal os produtores de azeite não fecharam as portas nem entraram em lay-off. Adoptaram-se medidas de protecção dos colaboradores e encontraram-se soluções para logísticas mais difíceis. Uma atitude que é aliás habitual no setor: construtiva, flexível, ágil para se adaptar às exigências da qualidade e da ética.
Certo é que a produção de azeite tem ajudado a fixar e a atrair pessoas para o interior do nosso país, criando uma geração de empresários agrícolas…
Posto isto, não é difícil concluir que é prioritário apostar na agricultura, focando-se em mantê-la competitiva num mundo onde só sobrevive quem criar valor, tiver qualidade e preço que permita a todos acesso a esses bens.
Manter a autonomia estratégica alimentar de Portugal é isso mesmo: acarinhar quem faz bem, incentivar quem faz sacrifícios para que possamos ser melhores, não empecilhar quem acrescenta valor na economia, nas pessoas, na sociedade.
Críticos sempre os houve e sempre haverá. Nas empresas só se aceitam críticas de quem sabe fazer melhor. Na sociedade também deveria ser assim. Nós continuamos a trabalhar, a cada ano, para nos superarmos e para devolver mais bem-estar e mais valias à comunidade onde estamos inseridos, procurando o respeito de quem no terreno percebe dos assuntos.
A bem de todos.
A bem de Portugal.
João Cortez Lobão
Proprietário da Herdade de Maria da Guarda, em Serpa