Tenho uma vaga memória da primeira charrua que o meu pai comprou para o trator Ford Super Dexta 45, mas sei que lavrou muitos hectares de Vila do Conde nesses primeiros anos a partir de 1963, quando havia poucos tratores. Recordo-me que era uma charrua azul e foi trocada por outra laranja, da marca “Curval”, no início da década de 80, após a chegada do Massey Ferguson 265. Era uma charrua feita aqui na Junqueira, em Vila do Conde, com uma inovação exposta na feira de Braga – uma “mola” que funcionava como fusível para não empenar a charrua quando encontrava alguma pedra. Era uma charrua “2 ferros / 12 polegadas”. A largura de trabalho das charruas mede-se sempre em polegadas, não sei porquê. Mais tarde, na “Metalúrgica Arvorense”, essa charrua foi aumentada para 14 polegadas e levou aivecas “Galucho” (A aiveca é aquela parte brilhante que vira a terra).
Após comprar o trator Lamborghini, em 1990 o meu pai comprou uma nova charrua na “Casa Catela”, em Vila do Conde. A Casa Catela vendia motores de barcos e máquinas agrícolas e funcionava no edifício que fora anteriormente o “Teatro Afonso Sanches” nos tempos áureos do bairro balnear e é agora o pão quente “Forninho”, na rua que desce do Hospital até ao mar.
Em 1991, ainda com 17 anos, tirei a carta de condução de trator num curso de “operador de máquinas agrícolas” ministrado pela Leicar, junto à Escola agrícola, em S. Pedro de Rates. Nessa ocasião anteciparam para 16 anos a idade mínima para tirar carta de trator, depois restringiram essa opção aos tratores até 3500 kg de peso bruto, mas nessa altura dava para todos e aproveitei. Tendo carta de trator e não tendo ainda carta de carro, uma vez fui de trator para a escola agrícola. Estacionei à porta da Escola e o trator chamou a atenção aos técnicos da Direção Regional de Agricultura que nesse dia foram dar uma palestra sobre mecanização agrícola.
– De quem é aquele trator?
– É meu.
– E que Charrua puxa?
– Uma charrua “2 ferros / 18”.
– E tem força para puxar? Que charrua é?
– É uma Kverneland, respondi.
– Ah, assim já percebo, isso é uma charrua que empurra o trator!
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.