Concelhia do PS arrasa declarações do ministro que defendeu a ideia de “esperar mais esta primavera” para a reflorestação natural do pinhal.
Um dia depois de o governo defender que é melhor “esperar mais esta primavera” para que aconteça uma regeneração natural do pinhal de Leiria (destruído em 85% nos incêndios de 2017), o PS da Marinha Grande veio a público “manifestar a sua mais profunda desilusão e descontentamento” com as declarações do ministro do Ambiente e Ação Climática, João Matos Fernandes.
Num comunicado emitido pelo secretariado da comissão política concelhia do PS local, presidida por Nelson Araújo, que é também chefe de gabinete da presidente da câmara, eleita igualmente pelo PS – os socialistas admitem que “nenhum marinhense tem a expectativa de ver o pinhal novamente com a mesma força que tinha no dia 14 de outubro de 2017. Mas nenhum marinhense se pode sentir confortável com o estado de abandono e esquecimento a que tem sido votado o nosso pinhal desde essa data”.
Apesar de o Governo garantir que estão executadas rearborizações em 1200 hectares, o PS da Marinha Grande sublinha que as promessas de investimento na recuperação e reflorestação do pinhal do Rei “foram quase vãs face ao diminuto impacto que as medidas tomadas até hoje tiveram no terreno”. “As inúmeras ações de reflorestação promovidas pela Sociedade Civil, e pela própria Câmara Municipal, não foram devidamente preparadas e acarinhadas pelo ICNF que as abandonou, permitindo que a larga maioria das plantas tivesse sucumbido ou fossem engolidas pelas espécies infestantes”.
Numa altura em que a atual presidente da câmara terá dado mostras de não tencionar recandidatar-se, este episódio vem ensombrar as relações entre o PS local e a hierarquia partidária.
As declarações do ministro do Ambiente aconteceram durante uma audição regimental na comissão de Agricultura e Mar, em resposta ao deputado do PCP, João Dias – que considerou “um crime político insuportável o que se passa relativamente ao pinhal de Leiria”. João Matos Fernandes – que agora tutela a pasta das Florestas – lembrou que a intervenção inicial no pinhal de Leiria prevê 2500 hectares, dos quais 1200 hectares já estão executados, “com rearborização de espaços ardidos”. Citado pela agência Lusa, o governante referia-se àqueles “onde ou não havia madeira ou não havia praticamente árvores, ou as árvores tinham menos de 20 anos, porque o banco de sementes era menor”.
“Queremos mesmo aproveitar ao máximo a regeneração natural”, reforçou João Matos Fernandes. E além de concordar que o pinheiro demora muito tempo a crescer, há outro ponto em que tanto o ministro como a concelhia do PS estão de acordo: “Passar-se-ão muitos anos” até que se possa voltar a ter a silhueta do pinhal do Rei, vulgarmente conhecido como pinhal de Leiria.
Mas na Marinha Grande as declarações de Matos Fernandes soaram estridentes. A concelhia do PS considera que “pretendem apenas escamotear a responsabilidade dos dirigentes nacionais e regionais do ICNF que, mesmo mudando os rostos e os nomes, permanece imutável na sua atitude arrogante e de sobranceria sobre os órgãos autárquicos e a população marinhense em geral”.
Desde outubro de 2017 que a reflorestação é tema recorrente em cada deslocação de responsáveis do Governo ao local. Começou com a plantação de sobreiros, na Vieira de Leiria, pelo próprio Primeiro-Ministro, António Costa. Mas na verdade as árvores não vingaram. Já em outubro de 2020, quando passaram três anos do desastre causado pelo fogo, secretário de Estado das Florestas foi à Marinha Grande anunciar um pacote de investimentos para os próximos anos. No mesmo dia, partidos e movimentos saíram à rua para dizer que nestes três anos “quase nada foi feito”. Ao mesmo tempo, o Observatório Técnico Independente fez chegar à Assembleia da República um relatório técnico em que arrasava a gestão do ICNF.
O artigo foi publicado originalmente em DN.