Os ministros da UE tiveram vários debates acalorados sobre “novos alimentos”, um termo abrangente que abrange vários tipos de produtos alimentícios, incluindo alimentos comestíveis à base de insetos, carnes cultivadas em laboratório e alternativas à base de plantas aos produtos de origem animal.
Dados da Comissão Europeia mostram que o consumo de alternativas veganas à carne, laticínios e frutos do mar aumentou cinco vezes desde 2011 e deve continuar crescendo. A União Europeia autorizou ainda a venda de quatro espécies de insetos, estando em curso, pelo menos, oito pedidos. Como a produção de carne é frequentemente relatada como prejudicial ao nosso planeta, esses novos alimentos são retratados como soluções na luta contra as mudanças climáticas. Mas, a batalha por dietas sem carne está colocando os tradicionalistas culturais europeus contra os inovadores alimentares.
Hungria VS Espanha e Alemanha
Por exemplo, a Hungria tomou uma posição muito clara sobre esta questão, argumentando que é necessário proteger as tradições culinárias europeias, uma vez que estas alternativas vegetarianas, insetos comestíveis ou carne artificial cultivada em laboratório podem ameaçar essas tradições. De acordo com a Presidência húngara, estes “novos alimentos” não são a solução para combater as alterações climáticas, e os produtos devem ser sempre comercializados de forma clara, sem induzir os consumidores em erro. O uso de termos como “salsicha”, “bife” e “leite” para descrever produtos à base de plantas gerou polêmica em vários países, chegando até mesmo ao mais alto tribunal da UE.
Mas as reportagens da mídia mostram que essa não é a opinião dos ministros das potências agrícolas da Espanha e da Alemanha, que se manifestaram contra a posição da Hungria, argumentando que inovação e tradição podem coexistir e que novas opções de alimentos não precisam necessariamente comprometer a cultura culinária da União. Alguns outros Estados-Membros expressaram uma posição mais alinhada com a da Hungria. Por exemplo, o ministro da Agricultura austríaco, Norbert Totschnig, membro do Partido Popular Europeu de centro-direita, disse que a UE deve garantir a produção de alimentos de alta qualidade, tradicional e regional.
O trabalho italiano
A Itália também é contra a carne cultivada em laboratório, pedindo uma avaliação de impacto e consulta pública sobre essa nova forma de produzir alimentos. Juntamente com a Áustria e a França, a Itália assinou um documento que foi apoiado por outros nove países da UE (República Tcheca, Chipre, Grécia, Hungria, Luxemburgo, Lituânia, Malta, Romênia e Eslováquia) em janeiro deste ano, sob os auspícios de uma reunião do Conselho de Agricultura da UE em Bruxelas. Eles pediram à Comissão Europeia que fornecesse informações científicas sólidas sobre esses alimentos, antes que a carne cultivada em laboratório seja comercializada na UE. Para a Itália, um perigo potencial para os consumidores permanece, já que a FAO e a OMS divulgaram um relatório identificando 53 perigos potenciais associados a alimentos à base de células.
Há algum tempo, a Itália está na vanguarda dos esforços em Bruxelas para bloquear qualquer intervenção para permitir o comércio de carne cultivada em laboratório, e aprovou uma lei nacional que proíbe a produção e venda de “alimentos e rações sintéticos”, mesmo no momento em que este artigo foi escrito, nenhum procedimento de autorização relativo à carne cultivada ou cultivada em laboratório foi submetido à Comissão da UE até agora.
O grupo de países anti-carne falsa assumiu uma posição firme contra essa tecnologia de produção de alimentos, enfatizando que os produtos à base de células não podem e nunca devem ser chamados de “carne” e pedindo que os produtos cultivados em laboratório nunca sejam promovidos ou confundidos com comida real. Além disso, eles citaram estudos que mostram uma pegada de carbono mais alta da carne cultivada em laboratório e um processo mais intensivo em energia do que a agricultura tradicional, sem vantagens ambientais reais. Em seu apelo por uma avaliação de impacto, eles especificaram que essa avaliação deveria abordar questões éticas, econômicas, sociais e ambientais e questões de nutrição, segurança sanitária, soberania alimentar e bem-estar animal.
Todos os tipos de novos alimentos devem ser submetidos a avaliação pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) e seguir os processos subsequentes de autorização de introdução no mercado pela Comissão Europeia. Mas em uma recente reunião de ministros da Agricultura, a França propôs a criação de um comitê para também avaliar os sentimentos do público em relação à carne cultivada em laboratório, já que as aprovações científicas contam apenas parte da história.
Procurar a opinião dos cidadãos europeus através da consulta pública é uma parte necessária do processo de decisão democrático, tendo em conta os desejos e as escolhas dos consumidores. A liberdade de escolha é uma boa ideia, mas é melhor garantir que suas escolhas sejam bem informadas.
Veja o artigo original:
https://meatthefacts.eu/home/activity/beyond-the-headlines/eu-clashes-over-novel-foods/
Fonte: APIC